tag:blogger.com,1999:blog-44005500001200001432024-02-07T19:20:52.773-03:00Sacudidora de palavras(Quase) todas as palavras que rondam minha cabeça.Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.comBlogger101125tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-61088130762289558312024-01-26T21:26:00.006-03:002024-01-26T22:37:51.041-03:00S.O.S<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</a>
</div>26.01.24<div><br></div><div>Eu queria poder salvar a sua vida.<div>Eu juro, eu queria muito, muito.<br><div>Queria te tirar do buraco, te resgatar dessa área sombria, arrancar essa dor de dentro do teu peito com os meus próprios braços e te apontar o caminho mais leve a seguir. Eu queria te falar palavras mágicas que fossem te fazer sentir melhor, que fossem te preencher inteira de felicidade.</div><div><br></div><div>Mas eu não posso.</div><div><br></div><div>Eu não disse que não quero, é que eu não posso. Não <i>consigo</i>. Não sei o que fazer, não sinto que tenho esse poder, não consigo alcançar a tua sombra. Eu sou só um grão, como você. E isso também me deixa louca. </div><div><br></div><div>Sinto culpa, mesmo sabendo que essa escuridão não é culpa minha. Do mesmo jeito que a minha escuridão nunca foi culpa sua. Do mesmo jeito que você nunca me tirou da minha escuridão. Eu sei que às vezes não parece, mas eu também passeio pela corda bamba dessa escuridão o tempo todo. E já caí muitas, <i>muitas</i> vezes. E já quis pular em muitas delas. Já quis acabar com tudo, já quis <i>muito</i>. E de vez em quando ainda quero.</div><div><br></div><div>Eu queria que você pudesse me salvar. Você e os outros, eu queria que vocês fossem minha salvação, meu bote salva-vidas. Mas vocês não são. E eu sei que não é porque você não quer, é porque você não pode. Eu sempre tenho que salvar a mim mesma. Toda vez. E toda vez dói. Toda vez me sinto só. Mas toda vez me forço a me resgatar, para conseguir encontrar vocês de novo do outro lado.</div><div><br></div><div>Me desculpe por não conseguir te salvar. Mas o que eu puder fazer, o que estiver ao alcance das minhas mãos através desse muro invisível, eu estou disposta a fazer. Eu só preciso que você me diga, porque eu não consigo enxergar através do muro. Eu preciso que você me aponte o que fazer. E se não houver nada que eu possa fazer, eu preciso que você saiba que eu estou logo atrás do muro, logo no final da corda bamba, logo na saída do túnel que não parece ter fim. Eu estou bem no limite de onde consigo ir, torcendo pra que você chegue logo, fazendo orações atrás de orações para que você ganhe mais forças, gritando seu nome, enviando todo o amor que eu tenho. Eu juro que tô aqui, mesmo que você não consiga ver. </div><div><br></div><div>E eu sei que você vai chegar aqui. Eu não tenho a menor dúvida disso. Eu sei, porque eu te enxergo bem maior do que você acha que é. Eu sei que você está caminhando pra cá, mesmo que você tenha a sensação de que está andando em círculos. Eu vejo cada passinho seu. Eu vibro a cada passinho seu. Você vai sair dessa sombra, você vai chegar aqui. E tudo vai ficar bem. Acredita em mim.</div><div><br></div><div>Por favor, acredita em mim.</div><div><br></div><div><br></div><div><br></div></div></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-92130373624551590642023-05-13T02:27:00.000-03:002023-05-13T02:29:06.479-03:00Bicho encanado<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfAjNbhfPWAWL8cZAmNA-rYzyPAZdR6y7iuZamNnqi0v8YstGHrkibVjNwCz-Mjs7JL0yhIseQcnUne7InSi2DjiPmXZmDsNT44mxerwxUwQE9JPDrimh-0SA0wt4bjoqyeUTE9EpyGEg/s1600/1683955646383977-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div><br>
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</div><br></div><div>12/05/2023</div><div><br></div>Tem um monstro que mora dentro da minha barriga. <div><br><div>Ele se mexe muito. Se arrasta, dá cambalhotas, morde, aperta. Às vezes sobe até lá em cima e depois mergulha até lá embaixo. Por vezes, ele é gelado. E é bastante insuportável. </div><div><br></div><div>Esse monstro nasceu junto comigo, ou pelo menos, é a impressão que tenho. Não me lembro de viver sem ele. Ele estava comigo nas primeiras lembranças da escola, quando havia uma tarefa difícil de realizar e que todos pareciam achar extremamente fácil. Ele estava lá quando eu precisava me dirigir à professora e fazia com que minha voz saísse bem baixinha e trêmula. Ele estava lá até nas brincadeiras, principalmente naquelas de brincar cantando no ônibus de passeios.</div></div><div><br></div><div>Nós convivemos no mesmo corpo há mais de trinta anos. Eu sei que ele vai viver e morrer comigo e às vezes chego até a me conformar com isso, com sua presença. Mas outras vezes, é completamente sufocante tê-lo dentro de mim. Eu o sinto subindo pela garganta, se arrastando vagarosamente como uma cobra gorda, preechendo a traqueia, se enrolando ao peito, enchendo todo e qualquer espaço disponível. Eu não respiro. Eu não respiro, não respiro, não respiro e dá vontade de vomitar. Muitas vezes, eu vomito de verdade.</div><div><br></div><div>Profissionais já me ajudaram com isso. Sim, existem especialistas no bicho da barriga. Eles me ensinaram a conviver um pouquinho melhor com ele, me ensinaram a desviar a atenção dele quando preciso, a não permitir que ele me impeça de viver. Às vezes dá certo. Mas às vezes eu também sinto uma necessidade de deixá-lo vencer por uma noite e deixo-o preencher todo o espaço da garganta, enquanto eu choro até o outro dia. Choro, choro, choro tanto que me pergunto como ainda não consegui matá-lo afogado. Mas o bicho é forte, às vezes mais forte que eu. Enquanto ele sobrevive, eu morro de pouquinho em pouquinho. </div><div><br></div><div>Hoje eu deixei ele vencer. Me deitei cedo e não dormi, fiquei sentindo sua pele áspera se arrastar dentro de mim até seu gosto amargo aparecer na boca. Deixei que ele me sufocasse. Não sei como será amanhã, não sei o quanto ele vai me apertar, não sei se vai me deixar viver o dia que preciso viver. Mas espero que sim. Espero que ele seja misericordioso comigo e que a gente consiga conviver um pouquinho melhor. Espero que um dia ele não tenha tanta raiva de mim. Espero que um dia eu não tenha tanta raiva de mim.</div><div><br></div><div><br></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-35214017100067890102022-12-27T15:54:00.001-03:002022-12-27T15:54:38.131-03:00Adeus, disse ele à flor. Mas a flor não respondeu.<div>27/12/2022<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgED3eXYw_H5ahoKy0VqdHCrXrAYtsPo9BhOYGjavVireElWq8Ryp4cuw_8wHCzOG3rHomxFxAm2bMSYWMDoVK8J67r7kpvBXloz3V14s9y-hwQd3RiygiS-zvMyZzfiXYRAPunQ60UtY/s1600/1672167272805475-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
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</a>
</div></div><div><br></div><div>"Ele julgava nunca mais voltar. E, quando regou pela última vez a flor, e se dispunha a colocá-la sob a redoma, percebeu que estava com vontade de chorar.</div><div>Adeus, disse ele à flor. Mas a flor não respondeu."</div><div><br></div><div><br></div>Hoje eu pensei de novo em ir embora.<div><br><div>Fazia um grande tempo que o pensamento não passava pela minha cabeça. Mas é que às vezes os dias são tão difíceis, as palavras são tão duras, os obstáculos se tornam rochas intransponíveis... A minha cabeça dói e eu perco a minha força. </div><div><br></div><div>Eu nunca tive um caminho para seguir. O que eu sempre fiz foi driblar as rochas para tentar seguir em frente porque os outros me diziam que eu deveria seguir, que eu não podia ir embora, que ir embora é ruim. Mas desistir sempre me pareceu tão mais pacífico... Dói muito continuar. Não é possível quebrar as rochas, apenas desviar. Mas e quando fica apertado demais para desviar, para passar entre elas? Eu queria desistir, parar de seguir em frente. Eu queria ir embora sem ouvir os outros, sem pensar nos outros. Eu só queria parar com tudo isso.</div><div><br></div><div>Eu continuo pensando nisso, acho que nunca vou parar. Acho que nunca terá uma saída para mim além dessa. Um dia, as rochas ficarão tão altas e tão próximas umas das outras que eu não terei mais como desviar para seguir em frente. Eu vou ter que ir embora. Eu vou ter que parar de ouvir vocês e ir embora, entende? Não é minha culpa. </div><div>Eu vou ter que ir.</div><div><br></div></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-52578321933908376582022-09-27T14:51:00.000-03:002022-09-27T14:55:04.943-03:00Aquela de setembro 27-09-2022<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiD854gSxYkhlTL4I3GTDAK9VzQEJJp1jPKD6VeRGBEeMvFvU6B5SXLgl4GIVvw830UQuzw6tgBSKhLj8GJ6Tp5_gwox8VF4PJTBnBesuPwU4LPJGzS0gcN2c1dU3xvqqVgggiK7O5f_8A/s1600/1664301060629706-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
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</div><br></div><div><br><div>Pensei em escrever um diário.<div><br><div>Pensei nisso tantas vezes. Para depois olhar para trás e me lembrar de tudo o que esqueço, de todas as vezes em que deixei para lá, em que deixei passar para não estragar as coisas, para não incomodar ninguém. Tantas vezes em que deixei (e ainda deixo) me cutucarem até sangrar, só para que os outros não se incomodem. </div><div><br></div><div>"Tudo bem, não tem problema".</div><div>"Tudo bem, eu lido com isso". </div><div>"Tudo bem, não fiquei magoada".</div><div><br></div><div>Eu me esqueço de que tenho o direito de me magoar. De que não é a primeira vez. Nem a segunda. Nem a terceira. Me esqueço de que quem me aponta o dedo sujo, mexeu em sujeira primeiro, quem me julga, tem condenações prévias, quem me ataca, tem o teto envidraçado. Mas eu não sei contra-atacar. Eu não sei tirar a mágoa de dentro de mim e transformá-la em defesa, em justiça. Eu estou sozinha e não sei me proteger.</div></div><div><br></div><div>Procuro abrigo em mim mesma, no meu silêncio, porque sei que não adianta tentar falar. Não vão me ouvir. Não tem ninguém para me ajudar, para me confortar, para me cuidar. Os últimos tempos foram difíceis e me deixaram cada vez mais sozinha. Preciso constantemente me lembrar do que realmente importa, de onde realmente está o meu futuro. De onde está o meu objetivo. Preciso constantemente me lembrar de que as escolhas são minhas e ninguém tem o direito de julgá-las.</div><div><br></div><div>Eu deveria escrever um diário para não me esquecer.</div></div></div><div><br></div><div><br></div><div><br></div><div><br></div><div><br></div><div><br></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-12556762115255142572022-06-06T00:53:00.000-03:002022-06-07T01:10:12.382-03:00O corpo não desfaz cicatrizes<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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</div>02/06/2022</div><div><br></div><div><br></div>Ela me contou que quando tinha três anos de idade, um ferro de passar roupas caiu em sua perna e queimou a sua pele. Décadas depois, ela ainda tem a cicatriz. Não dói.<div><br></div><div>Mas a pele ficou repuxada. Marcada. <div><div><br><div>"Quando passo a mão, eu sinto o relevo da cicatriz. Vejo, toco, sei que está lá e me lembro do que aconteceu. Mas o importante é que eu não deixei de andar por causa dela. É como a sua cicatriz dentro de você, entende?"</div></div><div><br></div><div>E eu entendo. É bom ouvir isso, ouvir alguém dizer que vê minha cicatriz. Que eu tenho sim uma cicatriz e que é perfeitamente normal que às vezes eu passe a mão sobre ela e ainda a sinta. Muita gente não entende isso, por ser marca antiga, por ser uma marca invisível. Por não ser algo palpável. Mas <i>eu </i>sei que ela está lá. Eu <i>sinto </i>que ela está ali.</div><div><br></div><div>"O corpo não desfaz cicatrizes."</div><div><br></div><div>Dificilmente eu me lembro dela, mas às vezes acontece de passar a mão sem querer. E eu estou aprendendo a não ter vergonha dela, a não ter vergonha de dizer que, quando sinto seu relevo, eu me lembro do ardor. Doeu demais, sabe? Acho que pouca gente sabe. Acho que só quem tem uma dessas, uma igual a minha, sabe. Dói demais e às vezes a gente se lembra da dor, e às vezes a gente chora um pouquinho de novo. Mas não tem problema, porque dor de alma é assim mesmo, a gente tem o direito de chorar tudo de novo de vez em quando. E depois a gente continua andando, porque a cicatriz, de alma ou de ferro, não impede a gente de andar.</div><div><br></div><div> Ninguém mais me impede de andar.</div><div><br></div><div><br></div><div><br></div><div><br></div><div><br></div></div></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-55820949313079549212021-12-25T23:49:00.002-03:002022-01-06T11:44:02.616-03:00O Coelho Branco<div style="text-align: center;">25/12/2021</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgaJmfLFPaJhDKOo4CK5pyfU-x5qKFuiV49sG5Ws0PaVtOhqVajXAvkGjk-KfXeWwmDQGjVJIbqqsep8vaNyw5I16RbfB74sTfqNpUReZcq1jyNtXWScI-LfHohNlwg52LEPQqz0P9b4LvIS9FF_adIAADQdlDKcDhl4NtqYlKwkq2Meg4MIi1iIF52=s2000" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2000" data-original-width="2000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgaJmfLFPaJhDKOo4CK5pyfU-x5qKFuiV49sG5Ws0PaVtOhqVajXAvkGjk-KfXeWwmDQGjVJIbqqsep8vaNyw5I16RbfB74sTfqNpUReZcq1jyNtXWScI-LfHohNlwg52LEPQqz0P9b4LvIS9FF_adIAADQdlDKcDhl4NtqYlKwkq2Meg4MIi1iIF52=s320" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;">But I knew you'd linger like a tattoo kiss</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;">I knew you'd haunt all of my what-ifs</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;">The smell of smoke would hang around this long</span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;">'Cause I knew everything when I was young.</span></div></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div><br /><div>Meus olhos pesam como se a noite fosse mais escura do que realmente está. Não é tão tarde assim ainda. Me pergunto por que sinto tanto sono hoje, se há pouco tempo passava as noites em claro e sorria durante o dia...<br /></div><div><div><br /><div>Mas então me lembro de que não foi há pouco. Já faz tempo... Já faz tempo demais. Eu tentei segurar o tempo em minhas mãos, mas o tempo é areia. Escorre por entre os dedos, por entre as frestas, escapa das minhas garras, se esquiva pelos cantos. Então eu parei de tentar. Passei a assistir. Hoje assisto o tempo correndo absurdamente, fora do meu controle, como naquele livro em que o coelho estava atrasado, aquele livro que li há tanto tempo para... Para tentar ser incrível como ela.</div></div><div><br /></div><div>Será que perdi tempo tentando ser como as outras? Será que me esqueci de olhar para dentro de mim enquanto ainda havia tempo? Não importa mais, tudo acabou. Tudo acabou há tanto tempo e, no entanto, não consigo deixar o tempo passar. Como se um grãozinho dele estivesse grudado em minha mão, como areia. Tento mostrar que não sou mais aquela menina que tentava impressionar em vão, mas será que não sou mesmo? Eu cresci, eu encontrei alguns fios de cabelos brancos, eu construí uma estrada que passa por cima dos meus medos e ando por ela corajosamente, eu dei as mãos e sei que não vou soltar, eu escrevi um livro inteiro sobre você e te matei no final. Eu vejo que o tempo passou. Mas por que então é tão difícil ficar quieta e fazer as pazes com o que ficou para trás?</div><div><br /></div><div>Eu não quero que o tempo volte. Não quero de verdade. Mas eu queria que ele não tivesse passado, queria ter ficado estática na linha do tempo, na época em que as noites em claro me traziam sorrisos e não dores de cabeça e olhos ardendo. Mas o tempo passou, a Wendy cresceu. O tempo passou, correu, virou as costas para mim e agora eu preciso virar as costas para ele. Eu sei disso. Eu vou fazer isso.</div><div><br /></div><div>E a primeira coisa é parar de falar sobre ele, o tempo. Me esqueci de que ele é personagem do livro, e que portanto, também deveria ter sido morto. Ele já não é o que era. A contagem dos dias e os anos bissextos já não são mais o que eram, eu nem ao menos sei quando fevereiro terá um dia a mais. Eu estou deixando que ele passe, mesmo que doa às vezes. </div><div><br /></div><div>Eu vou deixar que a noite de hoje passe, mesmo que doa às vezes.</div><div><br /></div><div><br /></div></div></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-21743785124211683602021-06-02T02:01:00.001-03:002021-06-02T15:02:02.514-03:00É muito difícil viver dentro da minha cabeça<div>02/06/2021</div><div><br></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2z2ztOn0j9uoJWRbathWDQxA05x8BPemyHexJzvJSdueeJv6jb-cXVm0aFpPIc3YjFnqdO4AySG_jSpNuhksJBDXbyrLEw3gnuang30RLrKgQeTUqKXISVfZzzkFr7VNaplXCyN8oYJ8/s1600/1622656915318405-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2z2ztOn0j9uoJWRbathWDQxA05x8BPemyHexJzvJSdueeJv6jb-cXVm0aFpPIc3YjFnqdO4AySG_jSpNuhksJBDXbyrLEw3gnuang30RLrKgQeTUqKXISVfZzzkFr7VNaplXCyN8oYJ8/s1600/1622656915318405-0.png" width="400">
</a>
</div><br></div><div><br></div>Uma vez minha mãe me disse que a Bíblia diz que esse mundo não é um lugar bom para se viver mesmo. Que Deus tem outro lugar pra gente, mas que é só pra depois, e que aquele negócio de os humilhados serem exaltados é só depois da morte.<div><br></div><div>Diferente da minha mãe, eu não sou grande seguidora da Bíblia ou de qualquer outro livro sagrado, mas eu tenho que concordar com essa parte, tá cada vez mais difícil ficar por aqui e eu me lembro desse diálogo com mais frequência do que costumava me lembrar antigamente. Hoje é uma daquelas noites difíceis, um pouco mais difíceis do que o normal. </div><div><br></div><div>É muito difícil viver dentro da minha cabeça - e nesse mundo aqui de fora também. É muito difícil viver todos os dias com esse sentimento de urgência dentro do peito, com essa certeza de que tudo vai dar errado, com esse temor de que o pior está sempre por vir, está sempre me esperando virar a esquina, está sempre chegando e me tomando inteira pelo medo, me paralisando, me sugando, me consumindo.<br><div><div><br></div><div>Meu Deus, eu quero morrer, eu quero morrer, mas eu não quero morrer, tem tanta gente morrendo agora, eu não quero morrer, eu não posso morrer, não agora. Eu só quero que se abra um buraco no chão para eu entrar lá dentro e me esconder do mundo, me esconder das pessoas, me esconder das expectativas, das responsabilidades, da luta interna eterna. Será que eu posso morrer só um pouquinho, só por hoje? Talvez por amanhã também. Será que eu posso morrer só um pouquinho, por uma semana ou duas?<div><div><br></div><div>Eu não sei se isso vai passar de verdade, nem nessa vida, nem na outra. Eu não sei se é só fase, se foi só um tropeço, se tá tudo bem, se é assim mesmo, se já vai ficar tudo bem, vê? Eu não posso ter certeza disso porque minha cabeça não me deixa ter certeza de nada e é só por isso que eu tenho quase certeza de que <i>nunca</i> vai ficar mais fácil, porque ela <i>sempre</i> vai estar aqui, a minha cabeça. </div></div></div></div></div><div><br></div><div>Será que quando a gente vai para o céu, a gente ganha outra cabeça?</div><div><br></div><div><br></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-79522224044760469612021-05-05T17:12:00.000-03:002021-06-02T01:40:50.074-03:00Olhar altivo<p style="text-align: center;"> 05/05/2021</p><p style="text-align: center;"><br></p><p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgklURatn_27llY01rk1szOd985YL_vp8NiXg6JYZ6-z680YqhBqBp1-5x9mEX1EElU50qCYoRJYp17BuOr95eH-5K2a7nPsuftt0dlU8NWP17sYNgIY7OfmhT91C19nQxVOUaXbVZnlV0/s1600/1620245531938576-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
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</a>
</div><br><p></p><p> Eu amo você.</p><p> Acho que é importante dizer isso, antes de qualquer coisa. Meu amor por você não diminuiu. Não é sobre isso. </p><p> Mas eu já te admirei mais.</p><p><br></p><p> Às vezes penso que os caminhos que tomamos são incompatíveis. Não sei o que nos levou a isso, se foram caminhos que seguimos sem perceber ou se tínhamos alguma consciência. Acho que estávamos distraídos demais com todo aquele amor e as gargalhadas das tardes de sábado. Mas lá no fundo, no fim do dia, quando a noite chegava e me deixava sozinha, a consciência tomava conta de mim. Eu sabia que o futuro seria assim. Eu <i>temia</i> que o futuro fosse assim.</p><p><br></p><p> E ele chegou, o futuro, como a montanha russa que mora dentro do meu estômago disse que chegaria. E chegou em forma de palavras, que ficaram ecoando em minha cabeça durante a semana inteira. Todas as noites, quando me deito no silêncio, as palavras que você disse gritam em minha cabeça. E elas machucam. Elas me ferem. </p><p><br></p><p> Sei que você não tem a menor ideia desses machucados que estão dentro de mim, que eu não consigo expor. Suas palavras aparentemente não eram ofensivas. Você nunca disse nada para me ferir. Pelo contrário, você sempre me cuidou. Mas as suas palavras me mostraram que aquelas mudanças que eu sempre temi, aquelas que você sempre dizia que não faziam sentido, enfim aconteceram dentro de você. Tudo aquilo que eu tinha medo que você se tornasse, você está se tornando. Eu sinto que está. Eu <i>temo</i> que esteja.</p><p><br></p><p> Não vou dizer que foi por influência de quem diz isso há anos, você não é mais uma criança. Você pode filtrar o que ouve. Você pode refletir, pode discordar. Mas foi uma escolha sua. Você escolheu estar do lado oposto de onde estou, de onde gosto de estar. Agora sinto que criamos um cabo de guerra e sei que não sou forte o bastante para te puxar para o lado de cá, não mais. Acho que um dia eu tive uma grande força, mas quanto mais tempo passo nesse mundo, mais sinto a força esvair-se e agora não sei se sou capaz de te convencer de coisa alguma. Mas eu queria ser, sabe? Eu queria ter força o bastante, queria que você reconhecesse minha força. Queria que reconhecesse o poder das minhas palavras, o poder das palavras dos que amam e dos que tentam ser justos. Queria que pudesse abrir seu coração para ouvir o que penso e o que sinto, sem aquele suspiro pesado e o revirar dos olhos. Queria que me ouvisse de verdade, de um jeito que você parou de ouvir há tempos.</p><p><br></p><p> E eu não queria escrever sobre isso. Eu queria falar. Eu queria ter coragem o bastante para te dizer tudo o que estou sentindo, sem medo de que você entenda errado. Sem medo de que você tome atitudes que eu não quero tomar. Mas o medo agora é algo que vai me acompanhar para sempre, não é? Eu disse que isso aconteceria. Eu disse que esse caminho me traria medo para sempre.</p><p><br></p><p> Mas não se preocupe, o fato de você ter escolhido um lado oposto ao meu não me faz te amar menos. Suas palavras corrosivas não destruíram o meu amor por você.</p><p><br></p><p> Elas destruíram o seu amor por mim?</p><p><br></p><p><br></p>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-88288798788954286592020-12-28T01:14:00.001-03:002021-01-24T01:16:52.019-03:00Nem rei, nem valete<div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg45zLtDAyzhqfPp7mjZ2cYlRlNGX_277ujS_T813m9uUGR7i1sb0TBGSPiUjk5uyuFwabLo-CoedEza0xWEgaJFDRo-LuxLEbkzQvDQWFm5Fqnk_fyqSq5Nfy_zYZD32pdnmWWe5daP0/s1600/1611461639343838-0.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
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</a>
</div></div><div> </div><div> 28/12/2020</div><div><br /></div>Tenho notado que passei os últimos dias (ou seriam os últimos meses?) me esforçando para não notar esses detalhes pelos cantos. Essas coisinhas escondidas atrás das cortinas, embaixo dos tapetes, nas frestas das portas. Mas eles estão aqui, eu vejo que estão.<div><br /><div>Os velhos hábitos voltaram.</div><div><br /></div><div>Aquele sentimento antigo de angústia e solidão, aquela amargura que envolve a alma e afoga o coração. Aquela sensação tão familiar.</div><div><br /></div><div>Quando foi que me deixei convencer de que eu não era mais um Curinga?</div><div><br /></div><div>Aquele que não é oito, nem nove, nem rei, nem valete. Aquele diferente de todas as cartas do baralho. Que todos enxergam como um bobo da corte e que poderia ser retirado do monte, sem que ninguém sentisse falta. Quando foi que me esqueci disso?</div><div><br /></div><div>Durante os dias que não foram vividos, mergulhei nas palavras novamente. Nas palavras escritas, nas palavras lidas, em todas as palavras, e foi assim que me lembrei. Mergulhei de novo em tudo o que costumava mergulhar e acho que acabei mergulhando de novo também nas águas movediças. Ops. Foi sem querer, eu juro.</div><div><br /></div><div>Foi sem querer, mas me afoguei de vez. Continuo vivendo os dias que não foram vividos, enquanto todos os outros já voltaram a viver. Parece que voltei a viver naquele canto. Ninguém enxerga o que eu enxergo, ninguém entende minhas palavras. É como se eu falasse outra língua. Eu tento expressar o que sinto, tento dizer, tento me abrir. Mas eles rolam os olhos. Suspiram com impaciência e eu me fecho de novo. Como nunca me fechei antes, talvez.</div><div><br /></div><div>Não acho que eu tenha salvação. Eles nunca vão enxergar o que eu enxergo, nunca vão entender o que sinto e como essa angústia é dolorida e como ela me mata pouco a pouco, a cada dia. Eles nunca vão entender. Eu sou um curinga, o bobo da corte, a carta que sobra, aquela que não tem par. Que não tem grupos. Eles são reis, valetes, As, oitos, noves. Eles são eles. Eu não faço parte deles. E eu não faço parte dele.</div><div><br /></div><div>No fim, quando todo o baralho se esparrama pela mesa, eu não consigo mais ignorar o fato: um dia, eu sei, um dia eu mesma terei que me dar a cartada final.</div><div><br /></div><div><br /></div></div>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-71163212341181835852020-09-12T17:46:00.002-03:002020-09-13T00:10:39.623-03:00É que eu sinto muito<p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: center;">12/09/2020</p><p style="text-align: center;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5sGPDHev0t-MHYCMIa-8gIIwfxsp6x8PHXNF4U1alnqraWFyEZcAdDk30TwfKELII38j4eHS_yT6D8uSUVNKFdih9I-fymDF8PHqLTEceH71xELYSi2BrkWPoEvtHGAgpwW9xzeFrVCY/s2048/Eu+Leitor-11.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1365" data-original-width="2048" height="333" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5sGPDHev0t-MHYCMIa-8gIIwfxsp6x8PHXNF4U1alnqraWFyEZcAdDk30TwfKELII38j4eHS_yT6D8uSUVNKFdih9I-fymDF8PHqLTEceH71xELYSi2BrkWPoEvtHGAgpwW9xzeFrVCY/w500-h333/Eu+Leitor-11.jpg" width="500" /></a></div><br /><p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: justify;"> 3:40 da manhã e eu penso que esse deve ser um recorde da insônia.</p><p style="text-align: justify;"><i> Insônia: </i></p><p style="text-align: justify;"><i> substantivo feminino</i></p><p style="text-align: justify;"><i> Falta de sono.</i></p><p style="text-align: justify;"> Talvez eu não devesse chamar de insônia, afinal. O sono existe, ele está lá. Ele está aqui. Ele está na ardência dos olhos durante todo o dia, na dor de cabeça, na resposta para aquela pergunta que de tempos em tempos ele me faz: e esses olhos vermelhos?</p><p style="text-align: justify;"> Mas eu deixei de dormir há algum tempo, há alguns meses. Quando voltei a sonhar. Eu deixei de dormir porque os sonhos fervilham em minha cabeça e eu não consigo parar, eu não consigo descansar, eu não consigo deixar de ouvir aquelas vozes que sussurram ilusões. E eu as respondo. Eu respondo que sei que elas estão mentindo, mas que estão mentindo tão docemente que eu quase acredito. Eu quase acredito em todos aqueles sinais do universo. Eu quase acredito que aquele lugar onde eu sempre quis chegar possui um caminho de tijolos amarelos. </p><p style="text-align: justify;"> Mas por fim, eu não me deixo acreditar, é claro. Eu não posso. Preciso matar os sonhos antes que eles me matem por completo, antes que eles tirem meus pés do chão e me façam cair. Porque a queda dessa vez seria insustentável, entende? Eu não sei se você entende realmente. Como eu poderia me explicar?</p><p style="text-align: justify;"> É que eu sinto muito.</p><p style="text-align: justify;"> Eu sinto tanto, a todo momento, sobre todas essas coisas do futuro, sobre todas aquelas do passado e sobre esse presente pausado, inexistente, insuportável. Eu não sei por quanto tempo mais vou conseguir viver nesse presente inabitável. Eu olho o calendário todos os dias e conto os meses nos dedos da mão, conto os meses que faltam e os meses que já se passaram desde que começamos a viver os dias em que ninguém viveu. Eu conto e faço planos para o futuro. Mil planos de tudo o que vou fazer quando eu voltar, mil planos de tudo o que vai acontecer, mil planos que eu com certeza alcançaria, se ao menos eu... Se eu... Se eu não fosse quem sou.<br /></p><p style="text-align: justify;"> Eu tentei me explicar para vocês. Mas minhas palavras são sempre batidas no liquidificador e dependendo da velocidade da mistura, não é possível mesmo distingui-las no final. Eu não os culpo por não me entenderem. É que são tantas as coisas que sinto que nem sei como colocá-las para fora de forma que elas não se embaralhem. Eu sinto muitas coisas que não digo e digo tantas coisas que não escutam.</p><p style="text-align: justify;"> Todos os sonhos se transformam em pesadelos ao fim da noite. É assim que tem que ser. É assim que preciso encarar, para que eu nunca me esqueça da realidade da alma humana. Para que eu nunca me esqueça de que não há mão para segurar (e não pelas mãos serem ruins, mas por esse não ser o papel delas). Para que eu nunca me esqueça de que no fim, sempre seremos apenas um e que por isso não devo tentar voar alto. </p><p style="text-align: justify;"> Ninguém vai me segurar para que eu não caia no chão.</p>Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-77598263772723125992020-06-09T16:23:00.000-03:002020-06-09T18:02:38.607-03:00Cigarra<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: medium;">09/06/2020</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5nxxYVYKgcFPs7XHo-ML-8SG97R15PkcrgZjQmQcCUxZf1Sd8o3dGL4YyiXp0vnVufL9tHeCqMM-JiZzoXCxH8Dv_MsCXjJxWRpWiKj_fgm1zRbIX8DG9daV85ivBC30KQtEDeeJ1LDE/s1600/IMG_20200609_175717.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1136" data-original-width="1136" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5nxxYVYKgcFPs7XHo-ML-8SG97R15PkcrgZjQmQcCUxZf1Sd8o3dGL4YyiXp0vnVufL9tHeCqMM-JiZzoXCxH8Dv_MsCXjJxWRpWiKj_fgm1zRbIX8DG9daV85ivBC30KQtEDeeJ1LDE/s400/IMG_20200609_175717.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Esse texto não é para que você leia, meu amigo. Não é para que você ouça.<br />
<br />
Esse texto é para que eu fale. É só para que eu fale.<br />
<br />
Há quantos anos nos conhecemos? Você se lembra do dia em que nos conhecemos? Já faz tempo, mas eu me lembro que gostei de você desde o primeiro momento. Talvez porque eu sempre gosto das pessoas no primeiro momento (e me esforço para que não seja apenas no primeiro momento). Eu gosto de pessoas, não é? Eu costumava sempre gostar das pessoas.<br />
<br />
Eu acho que você também gostou de mim já naquele dia. Quero dizer, você gosta de mim, não gosta? Eu costumava acreditar que você gostava.<br />
<br />
Eu me pergunto se nós já éramos assim naquela época ou se fomos nos formando e transformando ao longo do tempo. Eu não me lembro de ter esse sentimento agridoce naquele tempo. Talvez ele tenha surgido conforme eu mergulhava nessas águas profundas e movediças que existem dentro de mim, das quais já não consigo mais sair. Sei que não sou uma boa companhia na maior parte do tempo. Sei que escolho todas as palavras erradas. Sei que causo ferimentos aos montes ao meu redor. Mas eu não sei como não ferir.<br />
<br />
Te dediquei palavras sangrentas porque me senti ferida por você, o que não é uma justificativa plausível, eu sei. A gente podia ser tão parecido. Gostamos de muitas coisas em comum, sentimos tudo à flor da pele, entramos os dois naquela jornada de autoconhecimento e enfrentamento de traumas, ao mesmo tempo. Nós dois escrevemos. Escrevemos sobre nossos machucados mais profundos, sobre nossos passados, sobre o mundo e sobre o futuro. Nós dois sangramos por coisas parecidas em várias ocasiões. Por que a gente é tão diferente então?<br />
<br />
Talvez tenha sido pelas coisas que você viveu enquanto crescia e pelas coisas que eu vivi enquanto envelhecia. Pelas coisas distorcidas que nós dois aprendemos com quem não sabia ensinar. Eu tento não te culpar pelas suas decisões erradas e tento não me culpar pelos meus atos impensados, mas às vezes não consigo. Tenho uma incrível dificuldade em aceitar nossas diferenças e, sobretudo, suas indiferenças. Quando você não se importa. Quando você rola os olhos. Quando você se ofende por eu dizer que você não se importa. Quando você olha para dentro tão profundamente que parece não conseguir olhar para fora nunca mais em sua vida. E eu, que vivo no outro extremo, que me machuco por não conseguir olhar para dentro de mim mesma, não consigo acompanhar sua lógica e seu ritmo. Somos extremos de uma mesma sinfonia. Eu, autodestrutiva. Você, autocentrado.<br />
<br />
No dia do seu aniversário, quis te comprar um presente. Fiz uma lista de possibilidades e nenhuma delas se encaixava no meu atual emaranhado de problemas financeiros. Pensei em comprar mesmo assim. E aí lembrei daqueles momentos das sessões de terapia sobre o autosacrifício supérfluo. Dei dois passos para trás e desisti das compras. Senti culpa. Senti culpa por dois dias seguidos. Senti culpa como em tantas outras vezes, como quando você me presenteou em outras ocasiões. Você não iria sentir culpa, iria? Você não iria sentir culpa.<br />
<br />
Eu escrevo para que eu não fale demais, mais do que já falei. Para que a gente não se machuque mais. Eu escrevo porque não saberia dizer o que sinto com as palavras certas, porque não saberia dizer que toda a minha revolta e toda a minha tristeza diante da sua neutralidade também é... Amor. Será que você entenderia? Será que entenderia que tudo isso é porque sinto amor, acima de todas as coisas?<br />
<br />
Eu não acho que eu saberia dizer.<br />
<br />
Eu não acho que você saberia entender.<br />
<br />
<br />
<br />Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-74464651470409164812020-04-28T16:59:00.000-03:002020-07-28T00:12:11.889-03:00A ressaca do mar<div style="text-align: center;">
28/04/2020</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Hoje a tristeza foi tão grande que não consegui me desgrudar da minha própria pele para escrever outras histórias.<br />
<br />
A tela em branco me cobra, vazia. Mas me permiti dedicar o dia de hoje apenas ao espaço cheio aqui de dentro. Hoje o vazio foi tão grande que não houve espaço para mais nada.<br />
<br />
Curioso como uma pequena fagulha pode ocasionar um incêndio gigantesco. A faísca me fez enxergar de novo, me fez rever onde eu estava antes dessa pausa, dessa grande pausa. E o lugar onde eu estava era doloroso e hoje eu me lembrei por quê.<br />
<br />
Eu estava indo embora.<br />
<br />
Talvez eu estivesse indo até tarde demais. Já faz tanto tempo que não sinto que pertenço a esses lugares, a esses papéis, a essa vivência. Mas me agarrei com todas as forças porque sabia que se eu fosse embora dali, teria que ir embora de todas as coisas também. Eu estava indo embora, mas sem querer ir de verdade. Eu estava escapando, escorregando, caindo sem querer.<br />
<br />
Mas aí veio a pausa. E com a pausa, era impossível perceber que eu estava indo embora, porque ninguém podia mais ir a lugar nenhum mesmo. Até eu me esqueci de que estava indo. Fiquei. Fiquei por um tempo, fiquei como ficava antigamente, fiquei tranquilamente distraída, achei que fiquei inteira. Mas hoje a fagulha se acendeu e eu percebi de novo que estava partida ao meio, percebi como eu tinha escorregado, como estava distante da proximidade de sempre. Não existia mais nada daquilo para mim. A pausa camuflou o fato de que me mandaram embora, mas eu me lembrei. E agora não consigo me esquecer de novo.<br />
<br />
Quando tudo isso chegar ao fim, será o <i>meu</i> fim também? Será que a pausa renovou minhas chances ou voltaremos exatamente ao ponto em que paramos, onde eu estava escorregando pelo precipício? Eu não quero ir embora, mas não sei mais como ficar. Não sei se posso ficar, se me permitem ficar. Se eu suporto ficar... Não sei se há espaço para mim ou se terei que me espremer e me encolher como um peixe fora d'água que ainda tentar respirar em uma pequena poça. Não sei se terei ar, se terei fala, se terei importância, se lembrarão de mim.<br />
<br />
Não sei se terei amor.<br />
<br />
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-32539000763099251592020-03-24T23:01:00.001-03:002020-03-27T01:10:09.820-03:00Cais/Caos<div style="text-align: center;">
24/03/2020</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<br />
- Não queria ter voltado aqui - disse ela, quando se encontrou novamente sentada em frente à janela aberta para o mar.<br />
<br />
- Eu sei.<br />
<br />
- Eu estou tentando não voltar para esse estado, você sabe. Estou tentando de verdade, de verdade <i>mesmo</i>.<br />
<br />
- Eu sei - a outra voz respondeu, encarando a paisagem à frente. Como nas outras vezes, até o mar estava silencioso. - Mas eles não sabem disso. Não se esqueça de que eles não sabem.<br />
<br />
O olhar dela estava cheio, mas não derramava. Ela não conseguia derramar mais nada, apenas sentia seu coração doendo absurdamente. O silêncio fora de si reinava, as areias intactas.<br />
<br />
- E se eu tentar explicar a eles?<br />
<br />
Ele deu de ombros<br />
<br />
- É como te disse na última vez. Eles não são capazes de enxergar como você enxerga e não é culpa deles. Nem sua. Apenas não é possível.<br />
<br />
- De nenhuma forma?<br />
<br />
- De nenhuma forma.<br />
<br />
Mais silêncio.<br />
<br />
- Às vezes eu ainda penso muito em ir até lá - ela confessou, apontando com a cabeça para o oceano. - Sei que machucaria alguns, mas às vezes eu sinto que meus pés já estão lá, molhados. Às vezes eu sinto que na verdade não machucaria ninguém...<br />
<br />
- Talvez não.<br />
<br />
O pensamento dela vagou.<br />
<br />
- Eles vão embora, não vão? Mais cedo ou mais tarde, eles todos vão embora.<br />
<br />
- Vão.<br />
<br />
- Eu não acredito que poderei ser feliz quando eles forem.<br />
<br />
O silêncio, sempre úmido e pegajoso. O vento não soprava, o ar estava quente, o oceano lá fora era quieto e impiedoso, em sua imensidão.<br />
<br />
Quando a voz dele saiu, era grave e firme.<br />
<br />
- E você era feliz até agora?<br />
<br />
<br />
<br />
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-7529955204706406662020-03-06T11:46:00.000-03:002020-03-26T16:14:29.274-03:00Lácero06/03/2020<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3tAdIKs1G0PjivdT-wMZUGED6Pe90mNSjE0bY0SnndInfyYFphclSU4nS1ogoxp7y0Bo8CDUcY3oVflzsrWuMb7FrK4rLFwXIEHPjo2jXMvro7yPQ2lsUZDnWQVe-Bn30CN5cZKpfq-g/s1600/IMG_20200326_161205-01.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3tAdIKs1G0PjivdT-wMZUGED6Pe90mNSjE0bY0SnndInfyYFphclSU4nS1ogoxp7y0Bo8CDUcY3oVflzsrWuMb7FrK4rLFwXIEHPjo2jXMvro7yPQ2lsUZDnWQVe-Bn30CN5cZKpfq-g/s400/IMG_20200326_161205-01.jpeg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Era uma fábrica de última tecnologia, onde todos os robôs eram construídos de forma completamente automática. Um lote após o outro, os homenzinhos de aço e ferro saíam com todos os componentes que precisavam para realizar qualquer tarefa no mundo. É claro, como todo o processo era automatizado, não havia ninguém para decidir quantos robôs deveriam ser feitos, para onde cada um deveria ir ou qual função deveria cumprir. Mas, inteligentes como eram, cada um deles logo econtrava um ofício e o cumpria com maestria. Ninguém ficava para trás.<br />
<br />
Exceto...<br />
<br />
Bom, houve um dia em que algo aconteceu. Não houve alarde, ninguém chegou a perceber (já que máquinas e robôs não percebem coisa alguma), mas um robôzinho saiu da última esteira da fábrica com uma pecinha a menos. Nem mesmo ele chegou a perceber, pois o buraquinho onde a peça deveria estar ficava bem dentro dele. Por fora, todos os parafusos e engrenagens estavam completos. Ele saiu da fábrica em um dia ensolarado, como todos os outros robôs. Andou pelas ruas em que todos andavam. Encontrou um prédio em construção onde vários homenzinhos de aço e ferro marretavam e soldavam, lixavam e cortavam.<br />
<br />
Imediatamente, passou a marretar também. Mas entortou uma viga sem querer. Outro robô rapidamente consertou o estrago e empurrou o robôzinho para longe. Ele não entendeu nada (não fora programado para entender), então apenas escolheu outra ferramenta - um martelo - e passou a trabalhar novamente. Após dois minutos, martelou a própria mão de aço, entortando levemente um dos dedos. Três robôs o empurraram até a saída.<br />
<br />
Mais à frente, o homenzinho capenga encontrou outros androides sentados em grandes fileiras de computadores, digitando freneticamente. Sentou-se em um que estava vazio e passou a digitar. Três horas depois, seu computador gritou um alarme e o céu sumiu em fumaça. O robôzinho foi logo expulso novamente.<br />
<br />
Vagando pelas ruas, aproximava-se de cada grupo de semelhantes que encontrava. Ninguém dava atenção a seus bips. Grupos iam e vinham, deixando-o sozinho, ou o olhavam das antenas às rodas dos pés e afastavam-se. Ele não entendia, todas as suas peças visíveis eram exatamente iguais às dos outros de sua espécie, mas sentia que algo estava errado. Sentia que algo estava faltando. Procurava por todo o seu corpo de lata, mas aparentemente tudo estava lá. Não entendia de onde vinha aquela sensação de vazio, mas se fosse capaz de sangrar, o buraco da pecinha dentro de si teria jorrado em sangue. Depois de colecionar idas e vindas, cansou-se de ser empurrado para todos os lados vazios.<br />
<br />
Deitou-se em um banco ao ar livre. As nuvens escuras bradaram e a água derramou sem piedade. O robôzinho, feito de aço e ferro, não sabia que não podia se molhar. Ninguém sabia. E ninguém se importava, não foram criados para se importar. Ele ficou deitado durante uma eternidade, até perceber que não conseguia mais se mover, enferrujado que estava. As articulações não obedeciam mais. As outras máquinas passavam e não o enxergavam, ocupadas demais com suas importantes funções. Ele não morreu, não podia morrer, afinal, era um robô. Ficou ali, sentindo a chuva encharcar seu corpo supérfluo imortal, a água gelada pingando e escorrendo.<br />
<br />
Pingando e escorrendo.<br />
<br />
Pingando e escorrendo.<br />
<br />
O gelo chegou finalmente ao buraquinho vazio dentro dele. Doeu. A água congelante era como o vento que bate em um machucado na pele cortada, que arde. Ardeu. E continuou a escorrer. Ardeu. Escorreu, ardeu, escorreu, ardeu... Para todo o sempre.<br />
<br />
<br />Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-77218124376582103722019-12-25T18:57:00.000-03:002020-03-07T12:27:05.873-03:00Nem fim, nem começo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKXt4JuxT_bavOZLBdLxtbLl66PA1oUwXqzlRJ6IzXd1ZY-BPn2GxaWPKSiLvIWMUzTb18rSyjcrlJN27SDzs6McfYGfqpU_PpJnPUV7lJcJ6cncweOVW8QIfrCvgPwITfoYqCc2P78CY/s1600/IMG_20200307_122427.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKXt4JuxT_bavOZLBdLxtbLl66PA1oUwXqzlRJ6IzXd1ZY-BPn2GxaWPKSiLvIWMUzTb18rSyjcrlJN27SDzs6McfYGfqpU_PpJnPUV7lJcJ6cncweOVW8QIfrCvgPwITfoYqCc2P78CY/s640/IMG_20200307_122427.jpg" width="480" /></a></div>
<br />
25/12/2019<br />
<br />
<br />
Sempre será difícil.<br />
<br />
O timbre, que só posso escutar ao longe. Os sorrisos, que nunca chegam até mim. A pele intocada, o choque que não aparece mais, o espelho que nunca mais testemunhou coisa alguma.<br />
O aperto, rápido e insuficiente.<br />
<br />
Eu nunca vou me acostumar.<br />
<br />
Durante um milhão de anos, eu imaginei todas as realidades que poderiam acontecer. E eu sabia que, além delas, havia mais um milhão e meio que eu nem era capaz de imaginar. Duzentos mil caminhos que poderíamos seguir, centenas de atalhos entre eles, dezenas de escapatórias, uma dúzia e meia de trilhas completamente opostas que cada um de nós poderia adotar.<br />
<br />
Eu não errei.<br />
<br />
Os anos correram muito mais rapidamente do que eu imaginei, é verdade. Mas correram por um dos caminhos que eu intui. De alguma forma, eu sempre soube que seria assim. Não, eu não diria que sempre soube. Eu sempre <i>temi</i> que seria assim.<br />
<br />
Eu queria ter errado.<br />
<br />
Eu nunca vou entender as barreiras erguidas, eu nunca vou aceitar que aquele era o máximo que eu poderia ter. Porque eu sei que não era e hoje eu vejo que não era, hoje eu vejo tudo o que eu merecia e que me foi negado. Hoje eu vejo, <i>bem na minha frente</i>, tudo o que eu merecia e que me foi negado.<br />
<br />
Eu nunca vou aceitar.<br />
<br />
Deste ponto em que meus pés estão parados em diante, eu sei como será o caminho. Sei que ainda existem punhados e punhados de possibilidades e às vezes me acalma pensar que posso ser surpreendida. Mas sei que o provável caminho é de dor. Sempre será difícil. Sempre, sempre, sempre será difícil. Meu coração não se acostumará à realidade imposta a ele. Em algum rápido ponto do tempo, em algum pequeno grão da ampulheta, eu cheguei a acreditar que seria possível me acostumar. Que tudo o que preencheu meu coração um dia, desapareceria, se perderia ao longo da linha do tempo. Mas é outra linha que me liga. Um fio. Vermelho.<br />
<br />
O caminho será de dor e sei que existe a possibilidade de a dor se multiplicar ao longo do tempo, aparecer em outros rostos, me torturar de maneiras que nem consigo imaginar ainda. Até ser substituída pela dor da ausência permanente. Qualquer que seja a ordem, o caminho e os atalhos seguidos, o que sei é que nunca mais será fácil.<br />
<br />
Nunca mais será um lugar de paz.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-5046792250396314632019-07-12T15:04:00.003-03:002019-07-12T15:12:23.528-03:00Cai(o)s<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u> 12/07/2019</u></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u><br /></u></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRb4mW-L0A_ggqxqmBfCZet6Bf6tZpnbIDeKPxq86tqgDGslGZTXJGeKhENUHjnDeAYwVbvlr7gLHiUso0pvCHuQJikRW8mb4rhwfeXBnfqCgGPOB3LZoRfQPpiRbUUE2DiPNXBDIHdoA/s1600/cais.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRb4mW-L0A_ggqxqmBfCZet6Bf6tZpnbIDeKPxq86tqgDGslGZTXJGeKhENUHjnDeAYwVbvlr7gLHiUso0pvCHuQJikRW8mb4rhwfeXBnfqCgGPOB3LZoRfQPpiRbUUE2DiPNXBDIHdoA/s640/cais.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u><br /></u></span></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Encontrou-se sentada em uma cadeira, em frente à janela. A cadeira ao lado foi ocupada pelo outro. A vista da janela era preenchida pela paisagem da praia deserta, o mar à frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Por que tirou os óculos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele fazia a pergunta. Ela não o olhava, estava com a atenção fixa nas ondas do mar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não aguentei enxergar a verdade tão nitidamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Breve silêncio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sentiu dor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela concordou com a cabeça. Ainda com os olhos fixos na paisagem, perguntou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não há nada que eu possa fazer para mudar isso, há?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele negou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Enxergar com as suas vistas está além da capacidade deles. Não é culpa sua. Não é culpa deles. Apenas... nunca vai acontecer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A angústia no peito queria ser derramada, mas ela não conseguia mais chorar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sempre estive sozinha?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Silêncio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E por que eu nunca percebi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O amor que sentia por eles não permitia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela entendeu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E agora esse amor está mudando...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ... e mudará cada vez mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nem as ondas do mar falavam. Não havia vento soprando, não havia sinal de outras pessoas, não havia nenhum ruído.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela se virou para ele.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você acha que um dia eu terei que vir para cá de verdade? Para... me livrar dos sentimentos?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Para cá? - Perguntou ele, olhando à sua volta. - Ou para cá? - apontou para o mar profundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela deu de ombros. Ele respondeu firmemente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Qualquer uma das opções poderia te libertar. Mas você não teria coragem de seguir nenhum dos dois caminhos. E não estou dizendo que deveria encontrar coragem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E o que eu deveria fazer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele voltou o olhar novamente para a paisagem além da janela. Dependendo do modo como olhava, o mar parecia um convite. Um convite doloroso e libertador. Não havia som algum. O sol não brilhava. Os pássaros não estavam ali há tempos. Apenas um longo trecho de areia escura, envelhecida, e o oceano implacável.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada. Não há mais nada a ser feito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-66795629105725896132019-05-29T19:33:00.000-03:002019-05-29T19:40:13.623-03:00Diagnóstico <div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
29/05/19</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGXYOo-Zum-tUbuHSbKzro3dRyBBbYdH6STsi71v8ap6K-ensvYw-g6uGhknJvsDRBKGOlinO8j1MRzyuqy4YEIqvsG3gwI9qic1QHMblJ-b5rYni9SA-vOWAaqLqeP0hZN3UB0FFxPXM/s1600/P_20190529_192648-01.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGXYOo-Zum-tUbuHSbKzro3dRyBBbYdH6STsi71v8ap6K-ensvYw-g6uGhknJvsDRBKGOlinO8j1MRzyuqy4YEIqvsG3gwI9qic1QHMblJ-b5rYni9SA-vOWAaqLqeP0hZN3UB0FFxPXM/s320/P_20190529_192648-01.jpeg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
A expressão do médico era tensa, mas não havia rugas de surpresa em sua testa. Ele olhou para os papéis por uma última vez e logo depois para a paciente. Pigarreou.</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Minhas suspeitas foram confirmadas, é exatamente o que eu havia lhe dito.<br />
A paciente pareceu um pouco mais surpresa que ele, como se até aquele momento ainda não estivesse completamente convencida de que estava doente.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- O senhor pode me explicar de novo como é essa doença?</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Ele ajeitou a postura e agarrou a caneta prateada. Adotou um tom de voz afável. Mesmo não sendo a primeira vez que dizia isso, sabia o quanto era necessária a explicação.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Um bichinho invisível morde a sua pele. No início, você tem a impressão de que é só um comichão passageiro, mas os sintomas retornam de tempos em tempos. Cada paciente desenvolve a doença de uma maneira e por isso, os sintomas são bastante variantes. Dores no peito, um cansaço muscular tão forte que às vezes o paciente não consegue se levantar da cama, náuseas, vômitos, diarréia, falta de ar, além dos sintomas mais comuns: olhos lacrimejando a qualquer momento e narinas congestionadas. Além disso...</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Ele deu uma pausa perturbadora. A paciente, impaciente, apressou-o:</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Fale, doutor, eu aguento!</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Ele a olhou nos olhos.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Bom, além de tudo isso, você precisa saber: essa doença pode levar à morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ela levou as mãos à cabeça.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Por que eu? Entre tanta gente por aí, por que logo eu fui atacada por algo raro assim?</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
O médico negou com a cabeça veementemente.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Não, não, não há nada de raro nisso. Essa doença é extremamente comum. Existe desde o início dos tempos, mas nas últimas décadas, sua incidência vem crescendo de um modo alarmante. Com certeza você conhece alguém que também a possui.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
A paciente franziu a testa.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Não, doutor, acho que eu sou a primeira vítima que conheço.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Ele quase sorriu, com pena.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- É claro que ninguém te contou que também é portador. Ninguém fala sobre essa doença. Talvez nem você fale sobre ela. É algo que os outros não acreditam muito que realmente exista.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Como assim, não acreditam? Os sintomas são muito visíveis, o senhor mesmo disse que às vezes o paciente não consegue nem mesmo se levantar da cama.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim, mas vão dizer simplesmente que você é preguiçosa. Ou que está inventando histórias para chamar a atenção, fazendo um drama.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas e as náuseas, os olhos lacrimejando, a perda de peso?</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Tudo drama. É o que vão dizer.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas e os casos de morte???</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Ele deu de ombros.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Tentativa de chamar a atenção.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Doutor, como eu faço para acreditarem em mim, para me levarem a sério?</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Ele pousou a caneta e o olhar. Soltou um suspiro alto.</div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
- Essa resposta eu infelizmente não tenho. Apesar de atingir mais e mais pessoas a cada dia, a DPRSS ainda não é aceita por todos. Até mesmo quem a possui, muitas vezes aponta o dedo para os outros e diz que eles não a têm, que o caso deles é apenas frescura mesmo. Alguns doentes preferem esconder que são portadores. Outros tentam pedir a ajuda de familiares e amigos, mas são isolados do convívio de todos. Sinto muito, eu tenho o tratamento apenas para a doença. O julgamento alheio ainda não tem cura.<br />
<br /></div>
</div>
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-73150708903519124082019-04-16T11:10:00.000-03:002019-04-16T17:29:28.415-03:00Desconectada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXsxNzfFrmVowQAJWUmy5R_RkXibXsYCGVxHPGF4_ThWZqimi-AFVzCWLXD8xqx3Hr6pjeE_H6VWSMXgeTdJp9FBIxnI6v12h6-GOH3pGooJElRCV8a5wqxmbPtb19hJmiPJ_jHlexgVE/s1600/P_20190305_221929_1-01.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="892" data-original-width="1152" height="247" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXsxNzfFrmVowQAJWUmy5R_RkXibXsYCGVxHPGF4_ThWZqimi-AFVzCWLXD8xqx3Hr6pjeE_H6VWSMXgeTdJp9FBIxnI6v12h6-GOH3pGooJElRCV8a5wqxmbPtb19hJmiPJ_jHlexgVE/s320/P_20190305_221929_1-01.jpeg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
16/04/2019</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Você não estava dormindo, mas estava muito, muito cansado depois de tudo o que fizemos e fechou os olhos por um instante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu, deitada sobre seu peito, olhei para cima. Do meu ângulo via seu rosto sereno, sua barba naquela altura que já começa a te incomodar um pouco, o nariz fino respirando profundamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu acho que nunca te achei tão bonito em toda a minha vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sempre te achei bonito, você sabe. Mas... Não sei. Naquele dia, durante aqueles minutos em que você permanecia de olhos fechados, durante aquela respiração descalculada, por um instante infinito, eu te enxerguei com uma beleza que nunca havia visto antes. E me senti cheia do amor mais puro que já fui capaz de sentir.</div>
<div style="text-align: justify;">
Passei os dedos levemente pela sua barba, torcendo para que não abrisse os olhos, porque comecei a sentir os meus próprios se enchendo de lágrimas. E isso era algo que eu não poderia explicar, então você não poderia ver. Como eu iria dizer que meu choro secreto de todas as noites de repente estava querendo se revelar ali, na sua frente? Como eu poderia te fazer entender tudo o que existia naquelas gotas que nasciam de mim?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Existia a admiração por ti. A estupefação por ter em minha frente, tão colado a mim, aquele ser humano. Aquele ser, com tudo o que ele é. Existia também a dor imensa de ser quem sou. A dor de saber que o seu caminho deveria ser outro, que você precisa ir mais longe, que um dia terá <i>mesmo</i> que ir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Existia também, naquelas lágrimas que tentavam se formar enquanto eu lutava para que não caíssem, a tristeza em saber que talvez meu tempo seja curto. Que talvez eu não consiga mais lutar essa luta invisível por muito tempo, que talvez eu me afogue. Essa foi minha maior dor, porque ela significava, também, te causar dor. E meu bem, eu juro, eu não consigo nem imaginar o quanto me destruiria e o quão cruel e imperdoável seria te causar alguma dor. Essa fagulha de pensamento me fisgou tão fundo que só consegui me segurar porque você abriu os olhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você abriu os olhos por um pequeno instante e eu logo fechei os meus, me aconchegando melhor ao seu peito, fingindo cansaço. Ficamos mais um tempo ali, em silêncio. Eu não disse absolutamente nada sobre tudo o que se passou pela minha mente durante aqueles minutos. Não soube absolutamente nada sobre o que se passava em sua mente, como nunca sei durante esses momentos de silêncio. O silêncio também doeu e eu me lembrei como sempre me dói esse silêncio dessas horas. Como sempre me sinto isolada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desconectada. Completamente.<br />
<br />
<br /></div>
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-85667107545272896962018-11-12T13:24:00.000-02:002018-11-12T13:26:06.479-02:00Desvios precoces<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><b> </b><u>12/11/2018</u></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><b><u><br /></u></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmRF2e7u1wZOOzBMNXWzlDL-1qnA5WD3eHfMDMhv-2893-czZV5aQfsMxxn8LIcLoxr1aIZkNLBPSLTuFVL9ZwMd2cytcD8-dckV3411VKwgh0Siu0NxGfFcaVOvN1w3Jotyq9fzLb8C4/s1600/bing-3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1300" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmRF2e7u1wZOOzBMNXWzlDL-1qnA5WD3eHfMDMhv-2893-czZV5aQfsMxxn8LIcLoxr1aIZkNLBPSLTuFVL9ZwMd2cytcD8-dckV3411VKwgh0Siu0NxGfFcaVOvN1w3Jotyq9fzLb8C4/s320/bing-3.jpg" width="246" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Foto: Bing Wright</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sempre soube que esta estrada de chão um dia se apagaria. E eu costumava ter certeza de como isso aconteceria, sabia exatamente o que levaria as pessoas a deixarem de usar esse caminho e quais pegadas seriam as últimas a aparecer pela trilha. Mas eu não poderia estar mais enganada.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O abandono veio de onde menos esperávamos. E veio cedo, tão cedo. O fio de vida que serviria como referência para a morte de todo o resto ainda nem se rompeu. Por que estão extinguindo a existência antes que a vida termine? A solidão da morte é natural e vem com o tempo. A solidão em vida é isolamento inútil, criado apenas para o sofrimento alheio.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Não digo que essa foi a intenção, pois quero acreditar que a dor causada não foi proposital. Mas quero que ela seja pensada. Quero que seja algo a se refletir. Há quanto tempo ouço essas mesmas bocas falarem de amor, essas que agora proferem palavras que rasgam meu coração? Sinto-me confusa. Eu aprendi que o amor era algo a ser cultivado, ainda que em tempos difíceis. Aprendi que deveríamos nos esforçar para que nada nos afastasse, para que a força desse elo que existe desde antes de nós, nunca se enfraquecesse. Aprendi que a união era essencial para superar as dificuldades, para criar forças, para amenizar o sofrimento. Aprendi que, juntos, poderíamos subir mais degraus. E que esses avanços não nos afastariam, mas nos manteriam cada vez mais unidos, chamando outros para integrarem um grupo cada vez maior. Um grupo que possuía como base de construção, o amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Mais de vinte anos ouvindo tais bocas falarem de amor e agora me deparo com o egoísmo imposto como certo. Será que a voz da calmaria se esqueceu de ouvir sobre o perdão? Será que tantas vozes podem ter se esquecido ao mesmo tempo? Será que sou a única que ainda acredita naquilo que todos nós pregávamos?</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu tenho cada vez menos motivos para seguir. Todos os dias penso nisso. Todos os dias, listo as razões. Todos os dias, a lista fica menor. Todos os dias eu penso sobre como as coisas eram, como as coisas estão e como minha luta para manter tudo o que eu aprendi é inútil. Todos os dias, eu penso em desistir. Todos os dias, todos os dias. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Será que em algum desses dias, vocês pensaram sobre o que estão fazendo? Será que sabem o que estão causando? Será que esse pensamento está presente durante as suas orações?</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Vocês deixaram.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Vocês soltaram nossas mãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
<br /></div>
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-28976375223306133572018-02-16T17:32:00.001-02:002018-02-16T17:32:58.395-02:00A gente não dá conta da vida<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u>16/02/2018 </u></span> </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2aVYU4BNXu4KnOedsO-QH7kNsMbpm_5NP-56oPjIJlsAkFmR5HebSQW9VBmOSqzV09Q6AW62fc-iD0IP2sa_sKR6rdlyHReMz9-EsKhoIwxCZAWgjgyLGRrqoRTX4O1IOo9iVB-skizU/s1600/laura+zalanga.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2aVYU4BNXu4KnOedsO-QH7kNsMbpm_5NP-56oPjIJlsAkFmR5HebSQW9VBmOSqzV09Q6AW62fc-iD0IP2sa_sKR6rdlyHReMz9-EsKhoIwxCZAWgjgyLGRrqoRTX4O1IOo9iVB-skizU/s640/laura+zalanga.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: left;">Foto: Laura Zalanga</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A gente não dá conta da vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
A gente nasce, cresce, tem obrigações impostas e morre de amargura.</div>
<div style="text-align: justify;">
Diploma na mão, carteira assinada, dinheiro no extrato, certidão de casamento, filhos (não muitos, nem poucos), declarar imposto de renda, pagar plano de saúde, ser feliz no amor, no trabalho, no círculo de amizades, na família. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ninguém dá conta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você precisa encontrar um trabalho que você goste, mas que pague bem. Trabalhe durante 44 horas por semana, mas encontre tempo para fazer atividades físicas, para cozinhar refeições equilibradas, para cuidar dos filhos, para passar um tempo com os amigos, para namorar. E não pare nunca de estudar. Quem para de estudar, fica para trás no mercado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Tenha uma boa saúde mental e física. Lute contra seu próprio envelhecimento, hoje em dia já podemos encontrar cremes anti-idade indicados para os 25 anos, aproveite. Ao sinal dos primeiros fios de cabelos brancos, corra para o salão. E lembre-se de manter o corpo em dia: os cupons de desconto em clínicas de estética estão aí para isso, aliados àquela dietinha do verão. Mas isso é bom para você, você precisa cuidar de si mesma. Precisa gostar de si mesma. Precisa gostar de acordar às 5h da manhã todos os dias para fazer uma caminhada, precisa gostar de ir trabalhar depois disso, precisa gostar das conversas sobre isso, precisa gostar de suco verde. Suco verde.</div>
<div style="text-align: justify;">
E olha, saia logo da casa de seus pais, vá morar sozinha. Mas não por muito tempo, você precisa se casar um dia. Não more de aluguel, isso é jogar dinheiro fora, tenha uma casa própria. Tenha um carro. Troque de carro depois de, no máximo, 5 anos. Carro velho dá despesas demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
E não se esqueça: você precisa ser alguém na vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas então, o que a gente é quando nasce, se não somos alguém? Se precisamos passar a vida inteira buscando ser alguém na vida, o que somos então?</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando é que a gente se torna alguém de verdade? Quando conquistamos um diploma? Quando arrumamos um emprego com um alto salário? Quando temos filhos?</div>
<div style="text-align: justify;">
Algum dia, em algum momento da história, alguém decidiu que tínhamos que entrar em uma busca incessante pelo sucesso. Mas por que precisamos ser o melhor em tudo? Por que precisamos estar no topo? Por que precisamos de alguém nos elogiando e reconhecendo nosso suposto valor?</div>
<div style="text-align: justify;">
Ninguém dá conta disso tudo. Ninguém dá conta. Mas todo mundo continua cobrando dos outros que eles deem conta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por que a gente ainda perpetua a felicidade inalcançável?</div>
<br />
<br />
<br />Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-38176734119596717802017-12-27T01:25:00.002-02:002017-12-28T19:35:20.021-02:00Dès vu: rua 4, n° 0157<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; text-align: center;">
<u><span style="font-size: large;">27/12/2017</span></u></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; text-align: center;">
<u><span style="font-size: large;"><br /></span></u></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmG7qH7l1tUM2XZS2ZsDA3hfoEkuF9pu59rSS4BIeS-KLQPS_-kaMcd6c_kuzr2ieZOsp-UO16NJti6a4kZqNqdAw3z-35uFlm_TNeqYIPQznke2988sFUf7rKAwLVZoXlzwoGarpWHvo/s1600/P_20171227_011722.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmG7qH7l1tUM2XZS2ZsDA3hfoEkuF9pu59rSS4BIeS-KLQPS_-kaMcd6c_kuzr2ieZOsp-UO16NJti6a4kZqNqdAw3z-35uFlm_TNeqYIPQznke2988sFUf7rKAwLVZoXlzwoGarpWHvo/s320/P_20171227_011722.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
<a href="https://youtu.be/bPKoIZn6IJI" target="_blank">Dès vu:</a> a percepção de que um dia isso irá virar uma lembrança (<a href="https://www.youtube.com/user/obscuresorrows" target="_blank">The Dictionary of Obscure Sorrows</a>).</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
Eu nunca lidei bem com mudanças. Não digo isso com orgulho, pois é algo que estou o tempo inteiro trabalhando para melhorar em mim. Mas em algumas épocas, como neste momento em que escrevo um texto e ouço os carros passeando lá fora de madrugada, torna-se mais difícil. Dezembro.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
Eu sinto falta de tantas coisas. Sinto falta do sino e daquela música da meia-noite, que eu fingia não gostar, mas que me trazia um conforto familiar. Eu sinto falta dos bombons que sumiram. Eu sinto falta dos dias mais longos, da época com mais dias, quando tínhamos tempo o bastante para encontrar amigos antigos e para fazer amigos (secretos). Eu sinto falta de quando não faltava ninguém. </div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
Eu sei que algumas das mudanças partiram de mim, de escolhas minhas. E a cada dia, eu tenho mais e mais certeza de que fiz as escolhas certas. Eu amei absolutamente todas as coisas que estas paredes ouviram no silêncio das madrugadas, mas eu não sei se um dia vou voltar a vivê-las. Mesmo se eu quisesse.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
Sei que todos mudaram por escolhas positivas. Sei que estão seguindo o curso da vida, que estão crescendo no mundo, encontrando o seu caminho e criando o seu espaço, em diferentes espaços. Eu juro que fico feliz com o que vejo. Não confunda as coisas, minha tristeza não deriva das mudanças positivas que vejo acontecendo com todos. É só que... É só que eu sinto saudades.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
Eu sinto saudades até do que está acontecendo neste exato momento. Uma risada gostosa que eu tento guardar em meu cérebro no momento em que ela chega em meus ouvidos, um sabor que eu não sinto em minha cidade e que não vai embora com a escova de dentes, um cheiro que está por todos os lados aqui. O cheiro das paredes. É como se eu estivesse "andando pela memória enquanto ela ainda está acontecendo".</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
Eu passo as mãos por essas paredes e imagino como será quando eu não puder entrar mais nesta casa. Quando eu não puder mais sentir a renda das cortinas brancas embaixo das quais eu rodopiei. O chão por onde eu corria e onde dei alguns de meus primeiros passos (no sentido literal e no sentido figurado). Os esconderijos que me abrigaram em brincadeiras e em dores. A casa onde aprendi a sentir todas as formas de amor.</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px; text-align: justify;">
Eu percorro com os dedos as paredes e sinto com os pés o chão frio, que contrasta com o calor que sempre foi este lugar. E começo a sentir saudades, do que ainda está em minhas mãos. Eu nunca terei tempo o bastante para aproveitar tudo o que meu coração pede. Nunca terei voz para dizer todo o amor que sinto. Nunca conseguirei saciar essa saudade.</div>
<div style="font-family: "helvetica neue", arial, sans, sans-serif; text-align: justify;">
<div style="font-size: 16px;">
Mas espero que um dia eu consiga aceitar as mudanças que atropelam o meu coração.</div>
<div style="font-size: 16px;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;">The dictionary of obscure sorrows: https://www.youtube.com/user/obscuresorrows</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "sans" , sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "sans" , sans-serif; font-size: x-small;">Dès vu: https://youtu.be/bPKoIZn6IJI</span><br />
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "sans" , sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "sans" , sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-68911487404647387192017-08-30T14:58:00.000-03:002017-08-30T20:38:17.189-03:00Indulgência<div style="font-family: "helvetica neue", arial, sans, sans-serif;">
<div style="text-align: center;">
<u><span style="font-size: large;">30/08/2017</span></u></div>
<div style="text-align: center;">
<u><span style="font-size: large;"><br /></span></u></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdlLhHFw-CaFS43u-tXzWqm-E_lALQHHlrmZzbBh0hkR3wJR9hPWU_xTelo8lCCXCuMyNAHpo2dVc9L74-ruHDB6E0EYie1prCVGamjpilnF03jxRzU4fJFTTxQxOwGuvwpvPuUvD1sqw/s1600/indulgencia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="564" data-original-width="564" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdlLhHFw-CaFS43u-tXzWqm-E_lALQHHlrmZzbBh0hkR3wJR9hPWU_xTelo8lCCXCuMyNAHpo2dVc9L74-ruHDB6E0EYie1prCVGamjpilnF03jxRzU4fJFTTxQxOwGuvwpvPuUvD1sqw/s320/indulgencia.jpg" width="320" /></a></div>
<u><span style="font-size: large;"><br /></span></u></div>
<div style="font-size: 16px; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="font-size: 16px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-size: 16px; text-align: justify;">
Todas as pontas soltas se fecharam.</div>
<div style="font-size: 16px; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
<div style="text-align: justify;">
Algum tempo atrás, eu rezei por você. Não por você ser alguém importante para mim, não por estar entre as pessoas por quem peço e agradeço. Eu nem me lembro que você existe, na maior parte do tempo. Mas é que seu nome surgiu numa mesa de bar, em meio à conversa fiada de um sábado à noite e eu soube que você não estava bem. Nada bem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu rezei por ti porque eu sei que você não é dessas pessoas que rezam ou que acreditam e você sabe que minhas orações estão presentes até mesmo quando preciso muito que o semáforo feche para que eu não perca o ônibus. Eu rezei para que ficasse bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
<div style="text-align: justify;">
Eu nunca desejei sua dor, mesmo você tendo causado a minha. Nunca, nunca, nunca mesmo. Eu nunca me alegraria com o seu sofrimento. A chama da vingança não conseguiu acender-se em mim, por mais que a revolta com a bizarra situação que vivemos pudesse se apossar do meu coração. Eu desejei que tudo passasse logo. E que você ficasse bem, como eu fiquei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
<div style="text-align: justify;">
Sempre senti que havia uma ponta solta nessa história. Pelo modo abrupto como tudo aconteceu, por não termos nos visto quando tudo aconteceu e nem depois. Por nunca ter ouvido um pedido de desculpas teu. Por você nunca ter percebido quanta dor me causou. Eu sempre senti que havia algo faltando, o perdão que sempre esteve na ponta da minha língua, mas que de lá nunca saiu, pois você nunca o solicitou. Eu te perdoei e rezei muito para que você também se perdoasse. Para que você também vivesse intensamente o caminho que tem pela frente. Para que você também fosse feliz, como eu sou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
<div style="text-align: justify;">
Acho que no fim, depois de um ciclo completo de estações, Deus me disse que o melhor é que eu mesma dê um nó nessa ponta solta e corte o resto fora. Acho que Ele me ouviu. Acho que está cuidado de você, mesmo que você não saiba ou não queira.</div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
<div style="text-align: justify;">
Fique bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-26857885319795349212017-07-06T00:21:00.002-03:002017-07-07T10:55:35.243-03:00Nebulosidade <div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u>06/06/2017</u></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u><br /></u></span></div>
<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ4C37t8tOXnFmHPSOlQXs14Lb0J8AUUsslyPfxz64M0iRtuSriafomLRg9op-PjgwVj9qbB2oF8WxVWZZnyzdk69kQLUNwvTXP69r929cq_I0pflwBBdF5SnlD6oLYQXmLkLp9O5K1qs/s1600/Screenshot_2017-07-06-00-09-52_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1061" data-original-width="1080" height="314" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQ4C37t8tOXnFmHPSOlQXs14Lb0J8AUUsslyPfxz64M0iRtuSriafomLRg9op-PjgwVj9qbB2oF8WxVWZZnyzdk69kQLUNwvTXP69r929cq_I0pflwBBdF5SnlD6oLYQXmLkLp9O5K1qs/s320/Screenshot_2017-07-06-00-09-52_1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-size: large;"><u><br /></u></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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O que me dói é nunca ter andado pelas ruas em que outras meninas puderam andar. É nunca ter tirado uma foto da janela de um apartamento em um prédio de 25 andares e nunca ter tomado um café no frio desgraçado de uma cidade cinzenta. Me dói porque só eu sei o quanto desejei ter feito isso e tive as asas cortadas, todas as vezes. </div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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<br /></div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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Eu tive que ficar escondida embaixo da mesa, enquanto outras pessoas faziam arte em cima dela. Eu tive que engolir as minhas vontades, que eram tão simples, mas que aos olhos de outros pareciam inviáveis. Impossíveis. Não tinha como.</div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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<br /></div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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Eu tive que engolir quando queria chorar, tive que disfarçar quando as feridas doíam, tive que calar quando a vontade era gritar, quando, ao mesmo tempo, tanta gente nem necessitava do grito, podiam apenas falar normalmente. Eu nunca pude.</div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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<br /></div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
<div style="text-align: justify;">
Me dói e ninguém nunca vai entender porquê me dói. Ninguém nunca vai saber que essa ferida foi criada de tanto não deixar ninguém saber, de tanto esforço para manter tudo por baixo dos panos, de tantas histórias que só aconteciam no silêncio da noite, protegidas pelo escuro da madrugada. De tanto não poder falar. Não poder gritar. Não poder chorar. A censura, que eu nem sei de onde nasceu de verdade, é o que sempre me matou.</div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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<br />
Aquelas fotografias que não tirei, aqueles espaços por onde não andei, aquelas pessoas que não conheci, aquelas histórias que imaginei e nunca se concretizaram. E tudo o que vivi pela metade. As fotos que tirei, mas não tão bem assim. As fotos que posei, mas não com aquele olhar. Os livros que eu li, os mesmos que elas leram, mas que ninguém nunca quis saber. As metáforas que não foram escritas para mim. E nem por mim. A metáfora que escrevi em uma foto do céu, mas pela metade, porque ninguém nunca soube o que ela queria dizer. Eu meio que tentei realizar o tópico de conhecer pessoas, mas só pude apresentá-las. Eu meio que tentei andar por espaços parecidos - mas não deu na mesma. Eu meio que vi uma parte das histórias se concretizarem, mas não daquele jeito que queria, não daquela forma que devia, sempre só um pedacinho, sempre só um pouquinho, sempre só. Nunca junto. Nunca tudo.</div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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Foi a metade que me fez querer chegar ao fim. </div>
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<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans, sans-serif; font-size: 16px;">
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Passou, passou, eu sei. Mas o passado ter sido vivido pela metade, sempre, <i>sempre</i> me doerá.</div>
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<br /></div>
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Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-92212163255853905052017-06-23T11:57:00.003-03:002017-06-23T11:58:22.514-03:00Vai rolar<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u>23/06/2017</u></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u><br /></u></span></div>
<div style="text-align: center;">
Crônica escrita para a revista teen <a href="http://www.pluralz.com.br/" target="_blank">Plural Z</a>.</div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXzGphLcXhioPs68oyjIqUz6xHC4NJ6znZ8tx1TyZVVyhkebtIm3He78TYl-uPcoc2uUVr9ITKRQTHTbmf6RxkFdbRqbgFUIRocHwZl-NwSMteTSjKbzSV1X_aMUfUo8elC0CHMic60WM/s1600/finalizada-2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="314" data-original-width="608" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXzGphLcXhioPs68oyjIqUz6xHC4NJ6znZ8tx1TyZVVyhkebtIm3He78TYl-uPcoc2uUVr9ITKRQTHTbmf6RxkFdbRqbgFUIRocHwZl-NwSMteTSjKbzSV1X_aMUfUo8elC0CHMic60WM/s320/finalizada-2.png" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="background-color: #fdfdfd; border: 0px; color: #1c1c1c; font-family: "Quattrocento Sans", sans-serif; font-size: 16px; margin-bottom: 0.70588rem; margin-left: auto; margin-right: auto; max-width: 492px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><br /></span></div>
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Sim, você vai ser crush do seu crush. Não importa se ele é de Leão e você é de Touro, se ele é de exatas e você é de humanas, se ele é #TeamBiscoito e você é #TeamBolacha. Você vai ter um grande amor na sua vida. Talvez até mais de um. Dois, três, quatro… serão quantos você se permitir. Mas não permita que nenhum deles seja maior que o seu amor próprio, ok? Você vai precisar ser seu próprio salva-vidas.</div>
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<br /></div>
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Você vai ter uma profissão. Eu sei, é difícil pensar nisso agora, é difícil escolher, é confuso, emaranhado, desgraçado, que coisa mais chata esse “O que você vai ser quando crescer?”. Mas vai rolar. De uma forma ou de outra, por sonhos ou tropeços distraídos, você terá uma profissão. E se quiser, depois poderá ter outra. E depois outra. Somos feitos de muitos sonhos e você ainda vai descobrir como mergulhar no oceano de talentos que nem imagina que possui dentro de si.</div>
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<br /></div>
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Vai rolar também o famigerado choro no travesseiro, às vezes acompanhado de socos. As frustrações. Você vai sangrar, vai passar por maus bocados, vai querer que todo mundo se exploda, que caia um meteoro na Terra em uma noite de quinta-feira, só para não ter que enfrentar o dia seguinte. Mas vai passar. Não acredite nesse papo de que a vida adulta é mais difícil. É…A gente tem a faculdade, os boletos para pagar, a dor nas costas e a ressaca — que é bem diferente de quando você é adolescente. Tem gente babaca que cruza o nosso caminho, continuamos tendo o coração partido e a roupa começa a não se lavar sozinha. Mas a gente aprende a respirar. A gente ganha o superpoder de manter os pés no chão e controlar, de alguma forma, a labareda que antes deixávamos queimar tudo por dentro, até a gente querer sair da própria pele por desespero. Calma. Vai melhorar.</div>
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<br /></div>
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Também vai rolar de encontrar aquela turma de amigos que será como uma família. Mas você vai ter que procurá-la e depois que achar, sempre precisará investir um pouquinho de tempo, dedicação e atenção. Seja paciente e não pule esta etapa da vida. Mesmo sendo seu próprio colete salva-vidas, é muito bom ter alguém que te ofereça um espacinho no bote.</div>
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<br /></div>
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E sabe aquela certeza de que você está fazendo a coisa certa e de que seus objetivos estão claros e ao seu alcance? Então, isso não vai rolar. Você vai descobrir que a vida é imprevisível, que seus planos serão alterados o tempo todo e que você não faz ideia das surpresas que o futuro carrega. Mas muitas delas serão surpresas boas. Então, o melhor a fazer é respirar, relaxar e perceber que ninguém sabe muito bem o que está acontecendo mesmo. A gente tem que viver um dia de cada vez, sem se sufocar com as incertezas do amanhã. Se você conseguir manter o coração aberto e descalçar os pés do medo, a maré da vida vai te guiar naturalmente pelo caminho certo. Siga o fluxo!</div>
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Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4400550000120000143.post-12193045214051669502017-04-29T17:16:00.001-03:002017-05-23T17:12:23.082-03:00Pra garantir<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><u>29/04/2017</u></span><br />
<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaAhWDeW2oZ48xLd04_NZT_d6-qQJ0LSQwTWffFULiY1EkABRC7R6iy5TIjZGSyfnwdxiWoapTZbSNLh_hPEKkxWYhO6D9l0MXNgihIJgSjGvoTXsU-HkbcKS1JA2N3ThrhI35XHCmXC0/s1600/P_20170408_020228-01_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaAhWDeW2oZ48xLd04_NZT_d6-qQJ0LSQwTWffFULiY1EkABRC7R6iy5TIjZGSyfnwdxiWoapTZbSNLh_hPEKkxWYhO6D9l0MXNgihIJgSjGvoTXsU-HkbcKS1JA2N3ThrhI35XHCmXC0/s320/P_20170408_020228-01_1.jpg" width="319" /></a></div>
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Ontem eu pensei sobre a morte.</div>
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<br /></div>
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Quando todos já estavam dormindo, quando você já tinha me desejado o boa noite diário, quando eu já estava protegida embaixo das cobertas, dentro do silêncio do escuro, eu pensei sobre a morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não como uma forma de solução ou resposta para as minhas angústias, mas como o inevitável destino que ela é. Ontem eu li uma reportagem sobre um acidente de trânsito em que duas pessoas morreram. Semana passada, enquanto eu viaja de ônibus, o trânsito da rodovia foi parado porque um homem morreu atropelado enquanto trabalhava em uma obra. A gente vai morrer. E a gente não sabe quando.</div>
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<br /></div>
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As primeiras coisas que me vêm à mente quando esse pensamento me sacode são as pessoas que eu deixaria para trás. Mas sei, ou ao menos espero, que eventualmente elas ficariam bem. A outra coisa que me vem à mente é o que gostaria de ter feito e não fiz: terminar o livro. Eu sei, eu deveria, não tem desculpa pra isso. Ontem, porém, outra coisa inundou meus pensamentos e foi isso que me manteve acordada até os olhos arderem.</div>
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<br /></div>
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Eu nunca disse que eu te amo.</div>
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<br /></div>
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Existe um milhão de razões estúpidas para isso, nenhuma delas é por não te amar. Eu te amo todos os dias. Quando você me dá bom dia às duas da tarde, quando você monta uma playlist com músicas que eu provavelmente vou gostar, quando você me faz rir de uma besteira idiota até doer a barriga, quando você pergunta como foi meu dia e quando manda eu beber bastante água e comer bem. Eu te amo quando você diz que odeia a hora de dar tchau e quando cozinha algo gostoso para mim. Quando me pede um cafuné depois de um dia cansativo e quando me compra um doce para me alegrar em uma semana difícil. Eu te amo quando você diz que sou capaz de fazer tudo aquilo que não me acho capaz. Quando acredita em mim mais do que eu mesma. Quando compreende todos os meus dramas e me acalma sem demora. Eu sei que eu não te digo isso, mas às vezes é difícil até não dizer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mordo minha língua como se fosse um segredo. Não faz o menor sentido, eu sei, mas é o medo de tudo desabar quando ainda estamos em meio à construção. É o medo do tempo, esse bichinho que tanto odeio. É medo.</div>
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<br /></div>
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Mas ontem foi aquele outro medo que me invadiu, aquele medo que pede urgência, o medo de morrer antes de conseguir dizer tudo isso. "Que besteira é essa, você não está morrendo", diz a minha razão. Mas ela não tem razão, não dessa vez, porque como é que a gente sabe quando será nossa última vez? Nosso último dia? Nossa última saída de casa? A gente não sabe, não tem como saber.</div>
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<br /></div>
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Por isso, eu vim aqui escrever. Quando for a hora, hoje à noite ou daqui sessenta anos, quando for minha hora, pelo menos já deixei eternizado. Pelo menos você poderá saber, meu bem. O mais importante. Agora, você já sabe.</div>
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Kamila Siqueirahttp://www.blogger.com/profile/04930226305234691617noreply@blogger.com0