Aquela pequena solidão constante
13/01/2011
Você respira lentamente e mantém o olhar fixo na paisagem à sua frente enquanto percebe. Não é difícil ver, mas talvez não seja fácil admitir. Você olha ao seu redor fingindo distração e constata o que quase ninguém vê: Você não pertence a lugar nenhum.
O olhar é desviado quando encontra outro olhar qualquer, quase inconscientemente, contra a sua vontade. Não queria desviar, pelo contrário, queria saber olhar nos olhos. Queria saber ganhar a curta e completa atenção que um olhar é capaz de proporcionar. Queria ser vista e ser guardada na memória por causa de um detalhe qualquer. Mas como é que se aprende a não desviar um olhar?
Talvez tudo isso tenha surgido daquele antigo medo de se envolver. Mas se esse medo bobo foi superado há tempos, por que suas consequências ainda se refletem nas poucas palavras, no silêncio de quem não sabe o que dizer? Às vezes o rosto inexpressivo até sugere uma certa falta de interesse. Mas não, ah não. O seu interesse pelas pessoas é o que te move, é o que te empurra para seguir em frente. Existe amor pelas pessoas dentro de você, um amor grande demais. Esse é o seu erro, menina. O seu amor é tão grande que te faz perder o amor por si mesma. E o amor por si mesma deveria ser o teu amor mais venerado porque talvez seja o único verdadeiro. Não é que as pessoas não gostem de você, entenda. Elas gostam, algumas delas até bastante. Mas é que você... É difícil explicar. Você é... Ah, como é que alguém pode gostar de quem desvia o olhar e evita a troca de palavras? Não é sua culpa, eu sei que não. Mas também não é culpa dos outros. Você simplesmente não se encaixa. Em lugar nenhum.
Mas não é necessário nenhum pequeno desespero. Porque no fundo, ninguém se encaixa. Somos quase 7 bilhões de solitários lutando para tentar não desviar o olhar dos outros, todos nós. Todos nós, lá no fundo, temos essa pequena solidão constante e essa vontade de mudar. Mas não mudamos.
E no fundo, a única pessoa que você tem é a si mesma. Como todos nós.