Um desejo

23:22 Kamila Siqueira 1 Comments

11/12/2011

Eu queria falar. Só falar. Mas não tenho o que dizer e, se dissesse, as palavras sairiam erradas. Muito erradas. Não é por mal, entenda, mas minhas palavras sempre saem erradas. Distorcidas. Confusas. Arranhadas. Elas me traem. Eu levo um tempo considerável para reunir um pouco de coragem para falar e quando abro a boca, um punhado de palavras erradas saem de lá. As certas se escondem. O que eu realmente queria dizer não sai, não está lá, está preso na garganta e lá fica, permanentemente. E o que acontece depois das palavras distorcidas são os olhos confusos que me olham tentando entender, mas que não entendem. Nunca entendem. E eu tento explicar de novo, tento resgatar aquelas frases que ficam presas lá dentro, mas não consigo chegar até elas - estão longe até de mim.
E então eu tento reverter tudo com meu silêncio, mas o silêncio é tão torturante! E me apavora. Não gosto deste tipo de silêncio que me preenche de um vazio tão abstrato. E não gosto do silêncio dos outros. Porque eu também queria ouvir. Se não consigo falar, queria ao menos ouvir. Mesmo que não tivessem muito a dizer. Mesmo que dissessem palavras confusas e arranhadas. Eu entenderia. Eu sorriria. Eu me sentiria acolhida. Mas nem isso consigo em um dia cinzento desses. As palavras que vêm dos outros também se perdem no meio do caminho. E nunca chegam. E eu fico a esperar, com os olhos e ouvidos atentos, com as palavras ainda agarradas à garganta e com a urgência de quem não tem, de quem não tem... De quem não tem mais nada.

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