Ferris

02:33 Kamila Siqueira 0 Comments

17.05.24

É tempo de silêncio. 
E admito, estou achando estranho, mas bom. Acho que o que estou achando mais estranho é o fato de achar bom. Pelo menos na maior parte das vezes.

Às vezes dá sim vontade de quebrar o espaço e voltar a viver como se nada tivesse acontecido. Ignorar toda a dor causada, relevar todo o aprendizado, fingir que voltei no tempo e que não houve destruição alguma, que o cristal não se quebrou. Compartilhar os sorrisos e sorrir como se nenhuma parte de mim estivesse machucada, porque eu sinto falta disso sim, sinto falta de compartilhar as risadas às vezes.

Mas não é possível. 
Eu não consigo mentir, não desta vez. Eu não consigo fingir que as risadas não são cruéis e que sei que às vezes elas riem de mim. Eu não consigo dar os mesmos abraços que dava, não consigo chamar pelos nomes que chamava, não consigo entregar o meu amparo do jeito que entregava. Não consigo abrir meu peito do jeito que abria, me sentindo tão segura quanto era antes de tudo. Tudo, tudo mudou.

Como eles não percebem isso? Como não percebem que tanta coisa mudou, que o que aconteceu foi grande demais para mim e me despedaçou e me fez colar tudo de volta, mas de um jeito completamente diferente? Ou será que eles sabem, será que percebem e fingem que não? 

Eu não sei. E não posso falar sobre isso. Porque é tempo de silêncio, é tempo de me sentar ao longe, de olhar a roda gigante e desejar estar lá em cima, mas saber que, por enquanto, meu lugar é aqui embaixo. Meu lugar é longe, cuidando de mim. Cuidando do que está por perto. Meu lugar é comigo, com eles, com Ele, os mais importantes. Eu entendo e aceito o meu lugar.

Mas não deixo de me perguntar para quais lugares esse caminho me levará. 





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