Demasia
Não.
Entendo o que quer dizer, mas a verdade é que eu sou um oitenta completo, o tempo inteiro, sem espaço para oito nenhum.
Eu sou um exagero.
O tempo todo.
Eu não guardo espaços vazios em meu coração, eu o preencho de alegrias e angústias até que não reste espaço nenhum e meus sentimentos transbordem para fora de mim. Eu passo a madrugada me despedaçando, morro a cada noite e desperto no outro dia, completamente cheia de vida. Eu escrevo todas as minhas sensações sufocantes e transformo pessoas em protagonistas de textos, crônicas, trechos, parágrafos, escrevo livros inteiros sobre pessoas pela metade. Eu entrego meu sangue e meu oxigênio quando julgo que é necessário, eu não tenho um termômetro muito preciso e não pretendo ter. Eu não vou me segurar, não vou controlar meus impulsos, não vou evitar demonstrar tudo o que sinto porque outros julgam que sinto demais.
Eu corro uma maratona inteira para mostrar que aprendi a andar, eu salto de um penhasco só para provar a mim mesma que não tenho mais medo, eu mergulho fundo no meio do oceano sem saber nadar. A cautela não me cabe mais. Nunca me coube ter cautela, nunca me fez bem manter um pé atrás. Eu quero andar com os dois pés juntos porque acredito que só assim conseguirei chegar onde desejo. E meus desejos também não cabem no campo da modéstia. Eu quero ser grande, quero ir mais alto do que todos sugerem que eu vá, porque não tenho medo de altura. Eu entendo todos os medos e preocupações, mas eu não caibo dentro de tanta prudência. Eu preciso tentar e preciso dar o melhor de mim em tudo, preciso saber que fiz absolutamente tudo o que podia. Eu aposto todas as minhas fichas naquilo que todos duvidam, carrego uma confiança colossal de que tudo irá dar certo, de um jeito ou de outro. E se der errado, se eu cair, se tudo desmoronar, sei que pelo menos a queda será livre. Livre de culpa.
E se tudo isso for intenso demais para você, se eu for grande demais para todas as suas precauções, eu vou embora. Porque eu não vou, jamais, em hipótese alguma, diminuir tudo o que sou para me encaixar em pedaços pequenos de vida.