Eu não deveria escrever sobre isso.

23:42 Kamila Siqueira 3 Comments

23/04/2014


    Já faz algum tempo que não nos falamos. E mais tempo ainda que não nos vemos. Aos poucos te sinto mais distante, como sempre acontece, e não me refiro à distância física. Já faz muito tempo desde a última vez em que escrevi sobre você.
    Não por falta de ter o que dizer, isso eu tenho, e muito. Mas por pensar que não deveria falar sobre você. Pelo menos não publicamente. Por pensar que algumas pessoas não deveriam, não poderiam ou não gostariam de saber o que se passa aqui dentro. Me censurei durante muito tempo. Durante tempo demais. Não mais.
    Já faz quase dez anos, mas eu ainda me lembro das palavras exatas que você usou naquela tarde, depois de me beijar pela primeira vez. "A gente tem que tomar cuidado". Foi a primeira coisa que você sussurrou. A gente tem que tomar cuidado. Aquele foi o momento, aquele foi o exato momento, aquele foi o momento em que eu soube que você jamais seria meu.
    Idas e vindas, despedidas e reencontros, um início, um fim, vários fins, um pedido de desculpas, uma volta, um fim, uma pausa, não é o fim, nunca é o fim, nunca foi o fim. Outros amores, outras histórias, outros futuros planejados, outras vidas vividas, outros caminhos escolhidos, não vai acontecer de novo, eu sei, não vai, por mim poderia acontecer, por mim também, você faz falta, você também, eu te amo.
    Eu te amo.

"Eu não vou esquecer porque eu te amo."

    Você disse isso na última vez em que nos vimos. Pela primeira vez, você disse. E eu sabia que era verdade, apesar de tudo, apesar da vida, apesar dos outros caminhos, eu sabia que era verdade. Eu sei que é. Ainda é?
    Isso não muda os caminhos, eu sei, você tem um caminho e eu estou encontrando um caminho também. De novo. Eu não procurei, eu não queria, mas está surgindo um caminho. Você disse que existiam outros bons e é verdade. É verdade.
   Não é que eu não goste daquelas madrugadas sussurradas no escuro e dos sorrisos que a gente disfarçava. O coração que palpitava em segredo, tão alto e descontrolado. As mãos que suavam e tremiam mesmo depois de tanto tempo e aquela sensação de que minhas pernas estavam imitando gelatina, bambas, fracas, como se eu tivesse quinze anos de novo.

"Você é a história mais bonita que eu já tive".

    Mas é que a gente é sonho e eu procuro um caminho que possa ser realidade, sem censuras, sem desculpas, sem impedimentos, e acredito que você faz o mesmo. Eu queria que você fosse esse caminho. Sempre quis. Me deixe assumir que isso é o que eu sempre quis. Que sempre foi, durante todos esses anos. E assuma que não era bem o que você queria.
    A gente é sonho. Você sempre foi meu sonho. Meu sonho, meu amor, meu segredo, meu, meu tantas coisas e nunca meu. Nunca meu. E eu sempre fui sua, desde sempre sua, e nunca sua. Nunca sua. Nunca de verdade. Nunca.
    Hoje eu escrevi sobre você e talvez não devesse ter escrito. Mas era o que eu queria. Hoje eu não me importei. Hoje não tomei cuidado. Será que terei problemas?

"A gente tem que tomar cuidado".

    Será que teríamos tido problemas?

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Eu transbordo

01:36 Kamila Siqueira 2 Comments

08/04/2014


Se te pedissem para dizer quem você é em sua essência, você saberia o que responder?
Alice me ensinou que pela manhã acordamos sendo alguém, mas mudamos muitas vezes desde então. Apesar de saber exatamente como é isso, eu saberia dizer quem sou. Sei o que me é intrínseco: eu transbordo.        
Eu sou alguém que transborda. Transbordo meus erros e meus acertos, minhas dádivas e meus pecados. Tudo em mim é exagero e vivo aos extremos. Nada é ruim o suficiente se  não puder se transformar em uma tragédia shakespeariana. Se for bom, que seja um espetáculo da Broadway. Eu transbordo todos os meus erros e sofro minha culpa ao extremo. "Não pegue toda a culpa para você. Aceite só a sua parte." Me sinto responsável por tudo. Mas também transbordo perdão na mesma proporção.
Mesmo que não percebam o erro. Mesmo que ela nunca me peça perdão. Eu o transbordo.  
Minhas lágrimas são maiores que meus olhos, transbordam para fora, escorrem pelo corpo nu em excesso. Minhas alegrias andam transbordando em sorrisos e gargalhadas de doer a barriga. Amo ouvir essa risada.
Minha vontade de estar presente na vida dos que aprecio também é desse tamanho enorme. Minha vontade de agradar, de ajudar, de ser importante para os outros. De ser alguém. Talvez minha carência também transborde de maneira patética.
Mas peço que perdoe esses extremos ruins, e peço perdão oferecendo o que tenho em maior quantidade entre meus exageros: o amor.
Eu transbordo amor. Por todos aqueles que também tem amor e por aqueles que não o possuem. Por quem também me tem amor e por quem não significo. Por quem me quer e por quem me rejeita, por quem quer meu amor inteiro e quem quer só um pedacinho, sem esse auê todo.

Eu transbordo amor.
É isso o que me salva.
É isso o que me destrói.

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