Eu não deveria escrever sobre isso.
23/04/2014
Já faz algum tempo que não nos falamos. E mais tempo ainda que não nos vemos. Aos poucos te sinto mais distante, como sempre acontece, e não me refiro à distância física. Já faz muito tempo desde a última vez em que escrevi sobre você.
Não por falta de ter o que dizer, isso eu tenho, e muito. Mas por pensar que não deveria falar sobre você. Pelo menos não publicamente. Por pensar que algumas pessoas não deveriam, não poderiam ou não gostariam de saber o que se passa aqui dentro. Me censurei durante muito tempo. Durante tempo demais. Não mais.
Já faz quase dez anos, mas eu ainda me lembro das palavras exatas que você usou naquela tarde, depois de me beijar pela primeira vez. "A gente tem que tomar cuidado". Foi a primeira coisa que você sussurrou. A gente tem que tomar cuidado. Aquele foi o momento, aquele foi o exato momento, aquele foi o momento em que eu soube que você jamais seria meu.
Idas e vindas, despedidas e reencontros, um início, um fim, vários fins, um pedido de desculpas, uma volta, um fim, uma pausa, não é o fim, nunca é o fim, nunca foi o fim. Outros amores, outras histórias, outros futuros planejados, outras vidas vividas, outros caminhos escolhidos, não vai acontecer de novo, eu sei, não vai, por mim poderia acontecer, por mim também, você faz falta, você também, eu te amo.
Eu te amo.
"Eu não vou esquecer porque eu te amo."
Você disse isso na última vez em que nos vimos. Pela primeira vez, você disse. E eu sabia que era verdade, apesar de tudo, apesar da vida, apesar dos outros caminhos, eu sabia que era verdade. Eu sei que é. Ainda é?
Isso não muda os caminhos, eu sei, você tem um caminho e eu estou encontrando um caminho também. De novo. Eu não procurei, eu não queria, mas está surgindo um caminho. Você disse que existiam outros bons e é verdade. É verdade.
Não é que eu não goste daquelas madrugadas sussurradas no escuro e dos sorrisos que a gente disfarçava. O coração que palpitava em segredo, tão alto e descontrolado. As mãos que suavam e tremiam mesmo depois de tanto tempo e aquela sensação de que minhas pernas estavam imitando gelatina, bambas, fracas, como se eu tivesse quinze anos de novo.
"Você é a história mais bonita que eu já tive".
Mas é que a gente é sonho e eu procuro um caminho que possa ser realidade, sem censuras, sem desculpas, sem impedimentos, e acredito que você faz o mesmo. Eu queria que você fosse esse caminho. Sempre quis. Me deixe assumir que isso é o que eu sempre quis. Que sempre foi, durante todos esses anos. E assuma que não era bem o que você queria.
A gente é sonho. Você sempre foi meu sonho. Meu sonho, meu amor, meu segredo, meu, meu tantas coisas e nunca meu. Nunca meu. E eu sempre fui sua, desde sempre sua, e nunca sua. Nunca sua. Nunca de verdade. Nunca.
Hoje eu escrevi sobre você e talvez não devesse ter escrito. Mas era o que eu queria. Hoje eu não me importei. Hoje não tomei cuidado. Será que terei problemas?
"A gente tem que tomar cuidado".
Será que teríamos tido problemas?
"A gente tem que tomar cuidado".
Será que teríamos tido problemas?