Quase um diálogo.

20:12 Kamila Siqueira 3 Comments

01/12/2009

E quando ela falou, as palavras eram mais ou menos assim:
- É que a dor dos outros me dói muito mais do que minha própria dor. Ficaria satisfeita se pudesse dissipar a dor deles, mesmo se eu ainda tivesse que sentir a minha, e mesmo que tivesse de senti-la sozinha. A minha dor eu posso suportar, mas a dor dos outros é insuportável.

3 Comentários:

After the curtain.

19:40 Kamila Siqueira 0 Comments

25/11/2009

A música toca sem parar e eu a escuto repetidamente. A voz bonita do vocalista me pergunta, em inglês: "O que você fará quando a cortina cair?"
Eu penso e escuto ele repetir a pergunta calmamente. Depois respondo baixinho, como se ele pudesse me ouvir: "Eu não sei."
O tempo passou muito rápido. Tenho que confessar, geralmente o problema é que demoro demais para tomar uma decisão. Mas desta vez o problema não foi esse, juro que não. O problema é que não consigo enxergar as opções. Não vejo nenhum caminho que seja realmente bom para mim. O restante do tempo está passando e eu ainda não sei. Não sei, não sei e nunca saberei. É isso. Não sei. Pronto, não me cobrem mais.
Ouço o fim da música e as últimas palavras são as que fazem mais sentido. Acho que vou seguir como o vocalista sugere: "Esquerda, direita, esquerda, direita"
Um passo de cada vez.

0 Comentários:

Uma certeza.

21:15 Kamila Siqueira 0 Comments

07/10/2009

As lágrimas ainda escorriam silenciosamente pelo seu rosto, a expressão séria, o olhar perdido. Diante disso, minha única reação foi me sentar ao seu lado. O que mais eu poderia fazer?
Queria dizer que tudo vai ficar bem, mas você já sabe disso.
Queria dizer que o pior já passou, mas isso não é verdade.
Queria dizer que a vida é difícil mesmo, mas não acho que isso te animaria.
Preferi me calar.
Um suspiro longo e você me olhou como se agradecesse por algo, mesmo sabendo que eu não havia feito nada. Mas eu estava ali. Tive vontade de dizer isso em voz alta e dizer que sempre estaria ali. Mas pude ver pelo seu olhar que você já sabia disso. E conclui que por enquanto isso é o suficiente.
Mais tarde, vou te lembrar do quanto você é forte. Vou te lembrar de todas as coisas que já fez e tudo pelo que já passou. E vou dizer o quanto te admiro.
Mas agora, prefiro apenas me sentar ao seu lado, permanecer em silêncio e olhar para o horizonte. E ficar aqui, pelo tempo que você quiser.

0 Comentários:

Finidade.

19:20 Kamila Siqueira 3 Comments

15/09/2009


- Acho que é uma mariposa.
Ela discordou.
- É uma borboleta. As mariposas mantém as asas abertas quando pousam, as borboletas fecham as asas. - Ela se aproximou da borboleta até quase tocá-la. Era tão bonita que só não a tocou por medo de assustá-la. - Pena que só vivem algumas semanas...
- Não sabia que você entendia de borboletas...
Ao ouvir aquelas palavras, ela ficou pensativa por alguns segundos.
Pensou na felicidade, aquele castelo de cartas pronto para desabar a qualquer momento.
Pensou nos dias perfeitos de sol e sorrisos.
E pensou naquele sentimento bonito que habitou sua alma por tanto tempo e que agora não estava mais lá.
Declarou, por fim:
- Eu entendo do que é efêmero.
E não estava se referindo às borboletas.

3 Comentários:

Respire fundo.

20:38 Kamila Siqueira 0 Comments

05/08/2009

Está tudo bem.
Sei que no momento a confusão que se passa em sua cabeça é tão grande que você nem ao menos consegue dar um nome aos seus sentimentos. Mas acredite em mim, tudo isso vai passar.
Sei que um paradoxo de sensações surge dentro de você a todo instante, intercalando um vazio sem fim com um coração cheio e cansado, sem espaço para mais nada. Sei que você se questiona sobre muitas coisas e que às vezes chega ao ponto de não saber bem ao certo se ainda é a mesma pessoa que sempre fora. E se pergunta quem de fato você é. Eu sei que às vezes você pensa que perdeu a segurança do seu mundo e que não tem mais onde se agarrar. Eu sei que, nesses momentos, você tem a sensação de que vai cair, mas acredite, você não vai.

Você tem onde se agarrar.

Abra bem os olhos e olhe para o céu. Mas olhe de verdade, enxergue todas as cores do céu. Veja o azul profundo, o amarelo cintilante, o rosa delicado, as escuridões enevoadas. Perceba todas as mudanças de cores, todas as pequenas mudanças, todos os milhares de tons que surgem a cada minuto.
Depois, olhe para dentro de você. Feche os olhos e respire fundo. Sinta o ar entrando e saindo, sinta seu coração batendo, sinta a vida dentro de você. Seu coração bate forte, seu sangue corre depressa. Ainda há vida em você.
É aí que você se encontra de novo e percebe que está seguro.

0 Comentários:

Solstício.

19:35 Kamila Siqueira 0 Comments

23/06/2009

Lá fora faz frio.
Apesar disso, sei que não irá chover. Nem hoje, nem amanhã. E nem nos próximos meses. O frio permanecerá, é verdade, e o sol nunca será quente o bastante. Mas as chuvas acabaram, como se o céu estivesse cansado de chorar e tudo o que restou foram as marcas das lágrimas secas. Nuvens cinzentas, dias sem sol, corações vazados.
Mas é só durante um tempo. O céu sabe que logo o sol e as chuvas poderão surgir de novo. É só esperar.
E a vida, também é assim?
Dizem que depois da tempestade surge o sol. Será que ainda é cedo demais para sorrir? A tempestade foi deixada para trás, mas o que será do futuro? Que dirá o céu?
Por isso, não me culpe por ser cautelosa. Apenas tente entender, eu não posso confiar na escuridão da incerteza. E tente se acostumar com o clima do cerrado. Esqueça as chuvas até Setembro. Tente se aquecer com o sol fraco. E, por favor, acostume-se com os corações vazados.

0 Comentários:

Um pequeno pedaço.

20:52 Kamila Siqueira 1 Comments

13/05/2009

Mas naquela manhã o sol estava brilhando tão forte que eu até sorri. Me esqueci que não gostava de dias muito quentes e sorri para o sol. E ele pareceu sorrir de volta. Fiquei sentada ali perto da janela durante longos minutos. Fechei os olhos e senti os raios solares me aquecendo, como se o mundo inteiro me acolhesse. Fiz questão de não me lembrar dos perigos dos raios solares, dos raios ultravioleta queimando minha pele, da falta de protetor solar. Apenas senti o calor aconchegante durante aqueles minutos. O céu era de um azul intenso, tão intenso que foi impossível desviar os olhos. As nuvens branquinhas riam para mim, o mundo me abraçava e eu abraçava o mundo com meu sorriso.
Era bonito. O mundo era bonito daquele jeito mesmo, do jeito de sempre. Não precisava acrescentar nada, era bonito justamente pela sua simplicidade.
Olhei para aquele céu imenso e não me senti pequena. Me senti importante, mesmo sabendo de minha simplicidade infinita. Eu era só um pedacinho do mundo. Mas eu era parte do mundo, um pedacinho pequeno, mas que precisava estar lá.
O mundo é doce, muito doce. E não enjoa.

1 Comentários:

Cacos de vidro.

16:20 Kamila Siqueira 1 Comments

21/04/2009

Foi como se uma taça de vidro cambaleasse e espatifasse no chão. Só que não houve som algum. Ninguém gritou, ninguém pareceu perceber os cacos de vidro brilhando sob o sol quente. Mas afinal, quem foi que pensou que ali seria um lugar seguro, perto o precipício? Um pequeno cristal sem brilho algum, andando pela corda bamba. Que ideia mais absurda.
Não culpo ninguém além de mim mesma. Se ninguém me ouviu foi porque fiz questão de abafar minhas palavras. Fiz questão de permanecer calada. Não queria que minhas palavras frias machucassem alguém... Mas e agora? Será que há tempo? Será que ainda vale a pena tentar juntar os cacos de vidro? O tempo está passando...
As palavras bagunçadas não pedem ajuda. Eu poderia organizá-las para receber outras palavras em troca. Mas não busco palavras de conforto.
Espera.
Será mesmo que não busco palavras de conforto?
Sei a quem poderia recorrer, conheço um ombro amigo. Talvez até mais de um. Ele ouviria o vidro se quebrando e talvez até pensasse que o vidro é um cristal. Mas será que eu saberia o que dizer? Será que ainda sei como conversar? Será que sei definir a confusão de palavras emaranhadas que surgem em minha cabeça a todo momento? Será que fora da minha cabeça elas fariam sentido?
Juro que as palavras têm um significado.
Juro que tudo isso tem um motivo.
Como eu poderia explicar? Será que devo explicar?

Estou ficando cansada. E isso me assusta um pouco.

1 Comentários:

Tempo.

18:55 Kamila Siqueira 0 Comments

16/01/2009

 

Por causa dos dias todos iguais, a impressão que tenho é que o tempo demora a passar. Mas é só lançar o olhar sobre o calendário para perceber que na verdade os ponteiros correm rápido. Não tenho intenção alguma de tentar segurá-los, pelo contrário, peço que corram assim mesmo, bem rápido. Desta vez não é por ansiedade, nem por estar esperando por algo. Não espero por nada. Quero que o tempo passe porque estou à procura de alívio. Que venham os compromissos inevitáveis, os dias cheios, as decisões importantes, os dias difíceis. Que venham, mas que passem logo. Desta vez, ao invés de querer parar para respirar, vou prender a respiração, como alguém que mergulha por águas desconhecidas. E espero que tudo passe antes que eu perca o fôlego e precise respirar de novo.

0 Comentários: