Indulgência

14:58 Kamila Siqueira 0 Comments

30/08/2017




    Todas as pontas soltas se fecharam.

    Algum tempo atrás, eu rezei por você. Não por você ser alguém importante para mim, não por estar entre as pessoas por quem peço e agradeço. Eu nem me lembro que você existe, na maior parte do tempo. Mas é que seu nome surgiu numa mesa de bar, em meio à conversa fiada de um sábado à noite e eu soube que você não estava bem. Nada bem. 

    Eu rezei por ti porque eu sei que você não é dessas pessoas que rezam ou que acreditam e você sabe que minhas orações estão presentes até mesmo quando preciso muito que o semáforo feche para que eu não perca o ônibus. Eu rezei para que ficasse bem.

    Eu nunca desejei sua dor, mesmo você tendo causado a minha. Nunca, nunca, nunca mesmo. Eu nunca me alegraria com o seu sofrimento. A chama da vingança não conseguiu acender-se em mim, por mais que a revolta com a bizarra situação que vivemos pudesse se apossar do meu coração. Eu desejei que tudo passasse logo. E que você ficasse bem, como eu fiquei.

    Sempre senti que havia uma ponta solta nessa história. Pelo modo abrupto como tudo aconteceu, por não termos nos visto quando tudo aconteceu e nem depois. Por nunca ter ouvido um pedido de desculpas teu. Por você nunca ter percebido quanta dor me causou. Eu sempre senti que havia algo faltando, o perdão que sempre esteve na ponta da minha língua, mas que de lá nunca saiu, pois você nunca o solicitou. Eu te perdoei e rezei muito para que você também se perdoasse. Para que você também vivesse intensamente o caminho que tem pela frente. Para que você também fosse feliz, como eu sou.

    Acho que no fim, depois de um ciclo completo de estações, Deus me disse que o melhor é que eu mesma dê um nó nessa ponta solta e corte o resto fora. Acho que Ele me ouviu. Acho que está cuidado de você, mesmo que você não saiba ou não queira.

    Fique bem.


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