A hand to hold - Parte três de três

12:13 Kamila Siqueira 0 Comments

18/07/2014


(Eu ainda não deveria escrever sobre isso, mas faço desta a parte três de três, a última – ao menos até quando conseguir.)

Foi com as mãos que começamos. Não sei exatamente quando, o que sei é que as mãos dadas foram o nosso primeiro passo. Talvez tenha sido iniciativa sua, pela minha declaração de um ano antes, talvez tenha sido eu quem tomou a coragem. Não sei. O mais provável é que tenhamos esbarrado na pele um do outro e entrelaçamos - as mãos, os dedos e as vidas.

Hoje, tantos anos depois, suas mãos ainda entrelaçam - mas não as minhas.

Foi ela quem escreveu: a hand to hold. E eu reconheceria suas mãos em qualquer lugar, pelo significado tão importante que sempre tiveram para mim. Reconheci imediatamente o formato das unhas curtas e os dedos longos na fotografia. Suas. E a primeira coisa que pensei é que eu sabia exatamente o que ela sentia, aquele misto de felicidade e incertezas. Outra fotografia e você ria exatamente do mesmo jeito de sempre e eu quase consegui ouvir sua voz rouca e levemente anasalada rindo. Você usava a mesma camisa preta que vestia na foto que me enviou semanas antes, "para matar a saudade". Ela também sorria e foi exatamente isso que me fez tomar a decisão.
Teu sorriso sempre me fez rir sem querer, sua voz ecoa em minha mente neste exato instante. Eu amo saber que está sorrindo porque o que mais quero é que seja feliz. Eu juro. Mas, meu amor, meu eterno amor, eu te peço: não me leve junto contigo desta vez.
Você quer seguir por aquelas ruas estrangeiras usando sua camisa preta, uma das mãos no bolso, o riso de sempre e aquela moça de vestido vermelho ao seu lado. E, ao mesmo tempo, diz que quer continuar segurando a minha mão.

"O que sinto por você não tem fim nem começo. Continuamos do jeito que dá, tenho certeza que você sabe que é isso que quero."

Eu sei. E sei também que você é honesto com ela, mas é que o sorriso dela também é honesto. E é por ela e por mim que te peço para ir sem me levar desta vez. Que me tenha no coração, se ainda quiser, mas não em suas mãos. Não desta vez.
Pelo menos por enquanto, para que eu consiga esquecer o quanto foi injusto comigo. Para que nenhum de nós dois seja injusto com a moça que ri por essas ruas. Pelo nosso amor que não tem fim nem começo, pela minha felicidade e pelo teu riso, eu te peço: solte a minha mão.

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Quarta-feira de cinzas

15:26 Kamila Siqueira 0 Comments

09/07/2014


Eu andei por todas as ruas desta cidade antes que o dia fosse luz e a vida sugerisse uma estrada. Pelos becos que se escondiam de mim por medo da solidão da sombra que eu carregava, andei sem ter certeza se ela realmente pertencia a mim. Inaugurando esses caminhos que nunca haviam sido trilhados, encontrei os rastros deixados sem que eu tivesse a consciência de que tudo era pele descamada deixada para trás. Deixei a minha própria camada de pó, escondida nas entrelinhas, para que alguém a encontrasse um dia, ou não, não importa mais. Eu percorri pelos ladrilhos que separavam as duas calçadas sem tropeçar pelos cantos quebrados, sem perceber os cortes e as dores, sem a pretensão de ser vista deixando alguns cacos também. Eu andei com a calma de quem deixa a vida não vivida para mais tarde, sabendo, no fundo, que nada sairá do papel além do que já foi dito. Eu deixei reticências porque sempre as pretendo deixar, exceto quando o ponto final é intransponível. Eu não levei absolutamente nada comigo.

Mas por todas as ruas que passei, em todos os becos que parei, nas ruelas sem saída e nos caminhos percorridos, eu encontrei seus olhos castanhos por todos os cantos. Nem mesmo a minha pele descamada te deixava para trás e eu segui sem perceber que seus passos estavam deixando pegadas pela minha própria terra antes de mim. Eu não conheço suas estradas e nem pretendo, não vou trilhar esse caminho. Mas nós ficaremos encurralados em algum momento, e você não perceberá meus olhos castanhos por todos os cantos. E quando o tempo te engolir, você ainda será mais que um borrão, pois o tempo não te daria a condescendência de prosseguir sem pelo menos uma volta.

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