Grão de água
30/12/2016
Admito que é estranho dar estes passos.
Logo eu, que sempre tive tantos receios em dar passos para frente sozinha, agora anseio por criar meu próprio caminho. Você consegue imaginar isso? Eu, que sempre sofri por antecipação e afoguei-me tantas vezes em minha ansiedade, agora desejo o desconhecido.
Eu não sei de onde isso surgiu. É como se um interruptor se ligasse dentro de mim dizendo que está na hora. A minha hora. Aqui e agora.
É a minha hora de ser cem por cento quem eu sou, de usar toda a minha capacidade para ir mais longe. Para chegar mais alto. De parar de me esconder, de me autossabotar, de me censurar. De parar de pedir desculpas por querer mais, de parar de me diminuir diante de outras pessoas, de parar de achar que eu não posso. Porque eu sou maior do que aparento. Sou mais forte, mais capaz e melhor. Porque não sou mais apenas uma gotinha d'água em um oceano imenso. Sei que ainda não sou tudo o que gostaria, mas estou me tornando algo mais concreto que isso. Mais firme. Como um grão bastante sólido. E sei que tenho toda a capacidade para ser o que quiser e chegar onde eu quiser. Eu só preciso enfrentar.
Sempre senti que deveria carregar muitas coisas comigo se quisesse ser feliz. Que tinha a necessidade de ter pessoas e coisas comigo. Que precisava delas. Que não saberia viver se as perdesse por algum motivo. E então... Eu não sei muito bem como foi. Talvez as sessões de terapia tenham realmente funcionado ou talvez a maturidade tenha vindo com o tempo ou... sei lá. De repente aquela necessidade já não fazia mais parte de mim. De repente, naquela noite, a ficha caiu. Eu não preciso carregar nada comigo. É claro que ainda amo todos os que sempre amei e ainda quero todas as companhias que amo, mas há uma diferença tão gigantesca entre querer e precisar. Aquela necessidade quase física, aquela dependência que me trazia tantas angústias, que muitas vezes me impediu de fazer o que era melhor para mim por medo da perda, aquela coisa invisível que me segurou durante tanto tempo e me fez desistir de tantas coisas que tive vontade... tudo isso já não faz parte de mim. Carrego na bagagem apenas a minha confiança e os meus talentos. Sei que posso ir longe com isso. Sei que posso ser muito maior do que sou.
Só preciso, finalmente, ser protagonista da minha própria vida.