Veneno

23:42 Kamila Siqueira 0 Comments

13/04/2015


  Antes era amor. Cada batida do meu coração, cada lágrima e cada gota de suor que brotava do meu corpo era amor. E não por única pessoa, era amor pelas pessoas, por todas elas. Pelas risadas, pelas companhias, pelo tempo gasto da melhor forma possível, pelas conversas, pelos abraços, pelas mãos. Era amor puro, amor pelas pessoas, mesmo quando não havia razões para amar. Eu transbordava
   Agora eu me perco dentro de mim mesma procurando por esse amor. Eu não sei quando foi que o perdi. Não sei quando foi que fiquei surda às risadas, alheia às conversas e quando os sorrisos passaram despercebidos aos meus olhos. Como foi que deixei isso acontecer? Quando foi que parei de agradecer por cada céu bonito que meus olhos encontravam?
   Eu não soube lidar com todos os fatos que aconteceram, um atrás do outro, não soube manter a sanidade e o amor. Em vez disso, eu plantei uma semente escura dentro de mim mesma, negando o fato de que um dia ela iria brotar. E agora ela germinou. Brotou, cresceu, deu flores podres e frutos ruins. Eu envenenei meu corpo com a raiva que injetei em mim mesma. Meu sangue está contaminado por toda essa impaciência e descrença, por todo esse ódio que me consome e que só faz mal a mim, só destrói a mim mesma. Estou me corroendo. Deixei que o sangue contaminado corresse por todo o meu corpo, alcançasse meu coração, meus pulmões, os calcanhares e as pontas dos dedos. Minha alma corrompeu-se. Eu não sei como deixei isso acontecer, como pude permitir que minha alma fosse sugada pelo meu coração contaminado? Agora não sei mais como controlar as palavras cortantes que saem dos pulmões com força e dilaceram quem encontram pela frente. Eu queria mantê-las longe de você. Queria conseguir impedir que as palavras vazassem do meu corpo infectado, mas sinto que as abelhas presas em minha garganta precisam sair para não me ferroarem por dentro.
   Me desculpe por estar agindo assim ultimamente. Eu juro que não sou assim, juro que este não é o meu normal. Eu não me tornei isso. Não quero ter me tornado isso para sempre. Eu só preciso me livrar destas ervas daninhas que tomaram conta de mim, só preciso conseguir me livrar dessas células ruins que engoliram minhas alegrias, só preciso drenar este veneno. Eu juro que estou me esforçando para isso. Prometo que vou drenar meu sangue e purificá-lo de novo. Prometo que vou voltar a sentir todo aquele amor que me era intrínseco. Ele ainda está aqui dentro, eu sei que está. Eu só preciso enxugá-lo de todo o mal e cuidá-lo de novo. Só preciso plantá-lo de novo e voltar a semeá-lo. E eu vou amar de novo para que haja amor. Eu prometo.

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