Quando vou embora ( Ou sobre o medo de relacionamentos sérios)

01:11 Kamila Siqueira 0 Comments

17/12/2014


Na última vez em que dividi o travesseiro com alguém para dormir, passei a noite em claro. Literalmente. Revirei-me na cama procurando pelo sono até assistir o sol invadir o quarto que não era meu e perceber, inconformada, que eu não pregaria os olhos até poder deitar em minha própria cama - sozinha.
Ele dormia.
Mas ele não é personagem deste texto porque foi em mim mesma que fiquei pensando durante aquela noite longa. Em como não conseguia me sentir abraçada pelos braços que me abraçavam ou em como a respiração me incomodava e tudo o que eu desejava era poder sair dali - daquela cama, daquela noite, daquele relacionamento que eu nunca permiti que se tornasse um relacionamento.
Eu fugi. Não exatamente naquela noite, àquela altura eu já estava fugindo há muito tempo. Dele, de mim mesma e das palavras que eu precisava e me recusava a pronunciar.
É que não era a primeira vez em que me sentia assim e eu queria tanto não sentir. Queria tanto não sentir aquele desconforto e aquela sensação de que aquele não era o meu lugar, apesar de ser o lugar ideal, de que eu não podia continuar com aquilo, de que eu era um quadrado tentando me encaixar em um círculo perfeitamente redondo. De que eu tentava ser algo que não sou e sentir algo que não sentia. Que nunca sentia. Nunca, com exceção de... Sim, você sabe.


E é isso que me assusta: e se for assim sempre? E se eu nunca conseguir me permitir relaxar? Permitir que eu me sinta confortável com alguém, com a respiração de alguém, com os olhos adentrando minha alma? Quando percebo que deixei os olhos me invadirem até aquelas paredes internas, eu me afasto. Eu evito. Eu perco o interesse, ou invento desculpas, ou traio. Saboto minhas relações, meus amores, a mim mesma. Porque não posso.
E sim, eu sei que falo de amor o tempo inteiro e por favor, acredite, eu amo. Amo muito e de tantas formas! Mas esse tipo de amor, esse do tipo que inspira os poetas, esse funciona de uma única maneira para mim:
Eu me apaixono até as pontas do dedos. Até o último fio de cabelo embaraçado e rebelde. Eu amo e dou amor e dou tanto amor, até me assustar. Assusto-me com o futuro incerto, com as possibilidades, com as novas descobertas, com a seriedade e o compromisso. E então eu me perco. Perco o chão, perco a estabilidade e me assusto por estar perdida e vou embora. Vou embora para a minha casa, para as minhas coisas, para a minha estabilidade, para a minha vida sem eles. Sem nenhum deles. E me convenço de que não quero nenhum deles porque sei que não os preciso. Mas me esqueço que querer e precisar são coisas diferentes. Eu não preciso e posso muito bem ser tão feliz com minha vida desse jeito. Mas às vezes, quando encontro olhos tão bonitos como aqueles de outro dia, eu penso que quero. E me assusto por querer e tenho medo. Mas quero. O que faço para não me sabotar? Para ter coragem de arriscar? O que faço?


Eu tentei uma vez, a única vez em que não fui embora e... ah! Aquilo me destruiu tanto. Eu deveria ter ido embora. Eu deveria saber distinguir quando tenho que ir embora e quando vale a pena ficar. Eu sei que às vezes vale a pena, acredito nisso, quero acreditar. Mas eu fujo. Não quero fugir.

Você, que está para chegar, que talvez já esteja aqui, eu te peço: não me deixe ir embora. Não me deixe te expulsar da minha vida, não permita que eu me desvencilhe de seus braços ou me recuse a te dar a mão sem um motivo aparente. Não me deixe sair sem marcar um próximo encontro, sem dizer um "até amanhã", sem me comprometer a não te abandonar.
Não deixe que eu me perca em mim mesma de novo e me afogue nesse mar de medo. Por favor.

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Cinco e meia da manhã

06:39 Kamila Siqueira 0 Comments

30/11/2014





Tiro os sapatos, prendo os cabelos, olho o meu reflexo no espelho. Por trás da maquiagem forte e levemente borrada da noite, meus olhos me encontram. Mas me encontram de verdade. Depois de mentir para minha própria alma, depois de tentar convencer meu coração de que a insistência poderia tornar verdade o que não era, finalmente meus olhos verdadeiros me olham. E eles não estão envergonhados ou raivosos, estão sinceros. Apenas isso.


Não minta. Não tente ser outra coisa além disso aqui. Isso aqui é quem você é, com todas as cicatrizes e toda a leveza. Carne, osso e sangue.

Ouço os ecos da minha alma e respiro. Algodão, demaquilante. Meu rosto está livre da maquiagem, meu corpo está livre de qualquer máscara, meus ombros não carregam peso nenhum.

Todo o riso foi verdadeiro e todo o amor, foi amor de verdade.

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Almas perdidas

13:06 Kamila Siqueira 0 Comments

10/10/2014



É estranho pensar em como a gente se perdeu. Como nossas mentes eram quase siamesas e agora somos simplesmente duas pessoas distintas, separadas e distantes. É engraçado pensar em como distância não tem absolutamente nada a ver com quilômetros geográficos e sim com corações fechados. A gente não mora tão longe assim, em pouco mais de uma hora eu estaria na sua casa - isso porque não dirijo - mas você poderia facilmente pegar o carro e me encontrar em menos de vinte minutos para a gente tomar um sorvete nesse calor.


Mas você não faria isso. Quando precisou buscar umas coisas lá em casa, aproveitou o horário em que eu estaria no trabalho, porque era o melhor horário para você ou porque era mais fácil. E eu não te culpo. Era mais fácil mesmo.

O que aconteceu com a gente, minha menina? Eu não sei mais quem é você, você não se contentou em apenas mudar o corte de cabelo, até seu riso parece diferente agora. Por onde a gente andou para chegar a estradas tão diferentes? A gente sempre brincou de imaginar o futuro de tantas formas diferentes, mas nunca desta. Não assim, nos tornando pessoas completamente desconhecidas. Eu te vejo rindo de coisas sérias e agindo de uma maneira que não reconheço, te observo de longe enquanto você empina o nariz e desfila por aí. Será que eu também me tornei alguém tão diferente do seu ponto de vista?

Eu continuo fazendo o meu melhor, continuo agindo com o coração sem esperar retornos. Eu te perdoei, embora você nunca tenha pedido perdão (aquelas desculpas levianas naquele jantar não contam, sei que foram repletas de mágoa e desprovidas de sinceridade. Não a culpo, o erro foi meu - ainda era cedo demais para cobrar por pedidos de desculpas).

Eu não te contei, mas estou escrevendo um novo romance e procurando um emprego novo. Você também arrumou um emprego e eu não fiquei sabendo. Uma pessoa da minha família morreu e outra nasceu, eu tive crises de sinusite aguda umas três vezes no último ano e fiz novos amigos. Você não sabe de nada disso. Eu também não sei dos seus altos e baixos, mas sei que com certeza você os teve. Mas a gente não vai conversar sobre isso. Também não vamos fazer cachorros-quentes e assistir a filmes antigos até você dormir no sofá, não vamos planejar a próxima festa de ano novo ou ir nadar naquele clube que você sempre dizia para irmos no fim de semana. A gente não vai fazer mais nada.

Hoje você já me chama pelo meu nome ao invés do apelido, mesmo sabendo como isso sempre me magoava. Daqui um tempo, a gente vai se cruzar na rua e não vamos saber o que fazer, se nos cumprimentamos ou evitamos o olhar. Talvez você pare e diga um oi cordial, ou talvez só desacelere o passo e murmure um "tudo bom?", depois siga o caminho. No lançamento do meu livro, vou te esperar na fila de autógrafos e você não vai estar lá. Daqui a dez anos, eu vou me lembrar apenas das coisas boas e você ainda remoerá as ruins. Em vinte anos, não lembrará mais meu nome.

Eu sinto sua falta.

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Sobre as noites de sextas-feiras

11:26 Kamila Siqueira 0 Comments

06/10/2014


Eu queria ser como vocês, que riem sorrisos tão bonitos e não disfarçam com as mãos na boca. Queria saber exatamente onde ir quando desejar algo e como chegar até lá. Eu queria ter a coragem que vocês têm em sair sem planejar como voltar, em deixar pessoas para trás e não se perguntar se elas ficarão bem, não se importar com as questões que irão surgir e ignorar todas as investidas do destino em estragar seus planos. Eu queria ter as noites alcoólicas de passos perdidos que vocês têm, enganando o nascer do sol e prolongando a madrugada com a certeza de que tudo continuará tranquilo. Queria não sentir as vergonhas que sinto e não chamar a atenção para os tropeços como chamo. Não sei explicar meus passos tortos e vocês não os entendem porque caminham em linha reta mesmo quando embriagados de irresponsabilidades.

Eu queria não me importar. Não sentir a culpa que sinto e não carregar esta necessidade de me desculpar e me explicar por tudo. Às vezes não me explico nem me desculpo, mas me culpo e me calo com o remorso dos erros que não cometi. 

Eu sinto uma alegria e um amor sem fim, devido à insegurança de que tudo chegue ao fim. Vocês também amam, mas não se importam e amam sem promessas, sem dívidas, sem culpa porque a madrugada ainda vai longe. Eu tenho todas essas inseguranças palpáveis e sólidas, mesmo sabendo que um dia tudo isso irá se diluir em água e meus erros, meus pés tortos, minhas desculpas e nossos amores já não importarão mais, já não significarão nada além de uma lembrança borrada, que pode ser que tenha acontecido de verdade ou não. Eu queria cometer erros com a certeza de que eles irão se dissolver na maré da vida, como vocês fazem.

E eu queria não passar as madrugadas inteiras pensando em todas as voltas que o mundo pode dar, enquanto vocês mergulham pelas ruas noturnas. Sem medo, sem explicações e sem hora para voltar.

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Quando o querer não é poder

15:29 Kamila Siqueira 0 Comments

08/09/2014


Eu não sou capaz de atravessar paredes.
Não posso voar pelo céu azul.
Não posso correr do Brasil ao Japão em menos de cinco minutos.

Existem coisas que a gente simplesmente não têm a capacidade de fazer.
Não por sermos fracos ou preguiçosos, não por falta de vontade ou determinação, mas simplesmente porque somos humanos. E querer não é poder.
A gente sempre ouve os outros dando forças e dizendo para não desistirmos,que uma hora a gente alcança, um dia a gente vai chegar lá, é questão de garra. E eu gosto disso, eu gosto de acreditar que a maior parte das coisas está ao meu alcance, embora algumas sejam mais difíceis que outras. Mas é que algumas coisas, alguns desejos, alguns picos de montanhas e algumas linhas de chegada são completamente inalcançáveis e acho que é saudável admiti-las também.
A gente não pode ter tudo o que quer. E é bem verdade que muitas coisas apenas exigem estratégias e insistências, mas é preciso saber quando parar. A gente também têm limites. E ultrapassar esses limites apenas porque outras pessoas ultrapassaram e conseguiram alcançar o pico da montanha é esquecer de si mesmo. Meus limites são diferentes dos teus. Não me julgue por não conseguir escalar até o topo quando minha habilidade é mergulhar fundo. Eu não sou como você e não vejo a necessidade em ser capaz de fazer tudo o que os outros são capazes.
Me desculpe por não ser capaz. E não me diga que sou, não me peça para insistir mais ainda, apenas aceite que eu não sou capaz de ser tudo o que você é ou que os outros são. Eu juro que sou boa em outras coisas. Juro que tenho meus talentos, que sei realizar coisas que os outros não sabem e que você ainda vai se orgulhar de mim. Mas por agora, por favor, me deixe admitir minha incapacidade e meus limites. Me deixe ser humana. Me deixe desistir um pouco.

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Ladrilhos

17:13 Kamila Siqueira 0 Comments

22/08/2014


Na noite passada, sonhei que estava em um lugar errado. O que quer que fosse – pois não sei o que era - eu tinha a nítida sensação de que não deveria estar ali e que cheguei por engano, sem perceber e sem que ninguém percebesse também. Mas eu não tinha medo. O único pensamento que me ocorria era “Ok, esse caminho deu errado, só preciso encontrar outro”.

Estando acordada, meus caminhos perdidos são um pouco mais emaranhados e eu não tenho essa tranquilidade inteira que me pertencia em sonho. Eu olho à minha volta, percebo que tudo está bem e agradeço por isso. Todos os dias. Existem centenas de coisas que estão exatamente no lugar que eu gostaria e eu jamais mudaria isso. O caminho que é meu, eu mandei ladrilhar. Da forma mais bonita que pude. E quando vejo quem são as pessoas que caminham comigo e o tamanho do amor que consigo juntar de pouquinho em pouquinho, eu me sinto extremamente feliz. Mas, ainda assim, existe uma parte do caminho que eu construí sabendo que não estava bem certo.
Os ladrilhos se encaixaram, ficaram bonitos, mas ali não era o lugar deles. É como um quebra-cabeça onde duas peças se encaixam por coincidência, mas não formam o desenho certo porque ali não é o lugar de uma delas. Eu fiz tudo planejado para que desse tudo certo, para que eu ficasse bem, para que não me faltasse nenhum pedaço de ladrilho. E, veja, eu consegui. Eu estou bem de verdade desta vez, alcancei o que precisava.

Mas não estou onde deveria estar. É simplesmente o lugar errado.

Não tenho medo por enquanto porque ainda consigo caminhar por essa calçada bonita. Ainda encontro sorrisos sinceros e estou tranquila. Mas sei que precisarei sair deste caminho em algum momento. E, quando esse momento chegar, não sei como darei um passo para fora.

Só quero dizer que estou bem, que não sei para onde estou indo, que estou construindo meu caminho meio torto e que um dia precisarei endireitá-lo, mesmo sem saber como. Eu temo esse dia porque não sei como será.

Mas, neste exato momento, estou feliz. Então é isso.

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A hand to hold - Parte três de três

12:13 Kamila Siqueira 0 Comments

18/07/2014


(Eu ainda não deveria escrever sobre isso, mas faço desta a parte três de três, a última – ao menos até quando conseguir.)

Foi com as mãos que começamos. Não sei exatamente quando, o que sei é que as mãos dadas foram o nosso primeiro passo. Talvez tenha sido iniciativa sua, pela minha declaração de um ano antes, talvez tenha sido eu quem tomou a coragem. Não sei. O mais provável é que tenhamos esbarrado na pele um do outro e entrelaçamos - as mãos, os dedos e as vidas.

Hoje, tantos anos depois, suas mãos ainda entrelaçam - mas não as minhas.

Foi ela quem escreveu: a hand to hold. E eu reconheceria suas mãos em qualquer lugar, pelo significado tão importante que sempre tiveram para mim. Reconheci imediatamente o formato das unhas curtas e os dedos longos na fotografia. Suas. E a primeira coisa que pensei é que eu sabia exatamente o que ela sentia, aquele misto de felicidade e incertezas. Outra fotografia e você ria exatamente do mesmo jeito de sempre e eu quase consegui ouvir sua voz rouca e levemente anasalada rindo. Você usava a mesma camisa preta que vestia na foto que me enviou semanas antes, "para matar a saudade". Ela também sorria e foi exatamente isso que me fez tomar a decisão.
Teu sorriso sempre me fez rir sem querer, sua voz ecoa em minha mente neste exato instante. Eu amo saber que está sorrindo porque o que mais quero é que seja feliz. Eu juro. Mas, meu amor, meu eterno amor, eu te peço: não me leve junto contigo desta vez.
Você quer seguir por aquelas ruas estrangeiras usando sua camisa preta, uma das mãos no bolso, o riso de sempre e aquela moça de vestido vermelho ao seu lado. E, ao mesmo tempo, diz que quer continuar segurando a minha mão.

"O que sinto por você não tem fim nem começo. Continuamos do jeito que dá, tenho certeza que você sabe que é isso que quero."

Eu sei. E sei também que você é honesto com ela, mas é que o sorriso dela também é honesto. E é por ela e por mim que te peço para ir sem me levar desta vez. Que me tenha no coração, se ainda quiser, mas não em suas mãos. Não desta vez.
Pelo menos por enquanto, para que eu consiga esquecer o quanto foi injusto comigo. Para que nenhum de nós dois seja injusto com a moça que ri por essas ruas. Pelo nosso amor que não tem fim nem começo, pela minha felicidade e pelo teu riso, eu te peço: solte a minha mão.

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Quarta-feira de cinzas

15:26 Kamila Siqueira 0 Comments

09/07/2014


Eu andei por todas as ruas desta cidade antes que o dia fosse luz e a vida sugerisse uma estrada. Pelos becos que se escondiam de mim por medo da solidão da sombra que eu carregava, andei sem ter certeza se ela realmente pertencia a mim. Inaugurando esses caminhos que nunca haviam sido trilhados, encontrei os rastros deixados sem que eu tivesse a consciência de que tudo era pele descamada deixada para trás. Deixei a minha própria camada de pó, escondida nas entrelinhas, para que alguém a encontrasse um dia, ou não, não importa mais. Eu percorri pelos ladrilhos que separavam as duas calçadas sem tropeçar pelos cantos quebrados, sem perceber os cortes e as dores, sem a pretensão de ser vista deixando alguns cacos também. Eu andei com a calma de quem deixa a vida não vivida para mais tarde, sabendo, no fundo, que nada sairá do papel além do que já foi dito. Eu deixei reticências porque sempre as pretendo deixar, exceto quando o ponto final é intransponível. Eu não levei absolutamente nada comigo.

Mas por todas as ruas que passei, em todos os becos que parei, nas ruelas sem saída e nos caminhos percorridos, eu encontrei seus olhos castanhos por todos os cantos. Nem mesmo a minha pele descamada te deixava para trás e eu segui sem perceber que seus passos estavam deixando pegadas pela minha própria terra antes de mim. Eu não conheço suas estradas e nem pretendo, não vou trilhar esse caminho. Mas nós ficaremos encurralados em algum momento, e você não perceberá meus olhos castanhos por todos os cantos. E quando o tempo te engolir, você ainda será mais que um borrão, pois o tempo não te daria a condescendência de prosseguir sem pelo menos uma volta.

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Embarque Internacional

01:29 Kamila Siqueira 0 Comments

23/06/2014


Eu não vou embarcar nos portões de 2 a 13 esta noite, mas você vai.
"Ainda não sei o que fazer em relação a nós dois, mas queria dizer que hoje senti falta."
Reler suas palavras bonitas de dois dias atrás não muda o fato de que a moça do aeroporto te chama para o embarque. E você vai.
E você foi.
Eu tento dizer que não vou ficar aqui de pijamas lembrando de quando você me chamava de sua garota, mas eu estou aqui sim.
Mas eu estou cansada.
Disso. De tudo isso.
Dessa parte de mim.
De mim mesma.


Ps.: me desculpe. Eu escrevi de novo sobre aquilo que eu não deveria escrever, mas eu realmente não me importo.

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Eu não deveria escrever sobre isso.

23:42 Kamila Siqueira 3 Comments

23/04/2014


    Já faz algum tempo que não nos falamos. E mais tempo ainda que não nos vemos. Aos poucos te sinto mais distante, como sempre acontece, e não me refiro à distância física. Já faz muito tempo desde a última vez em que escrevi sobre você.
    Não por falta de ter o que dizer, isso eu tenho, e muito. Mas por pensar que não deveria falar sobre você. Pelo menos não publicamente. Por pensar que algumas pessoas não deveriam, não poderiam ou não gostariam de saber o que se passa aqui dentro. Me censurei durante muito tempo. Durante tempo demais. Não mais.
    Já faz quase dez anos, mas eu ainda me lembro das palavras exatas que você usou naquela tarde, depois de me beijar pela primeira vez. "A gente tem que tomar cuidado". Foi a primeira coisa que você sussurrou. A gente tem que tomar cuidado. Aquele foi o momento, aquele foi o exato momento, aquele foi o momento em que eu soube que você jamais seria meu.
    Idas e vindas, despedidas e reencontros, um início, um fim, vários fins, um pedido de desculpas, uma volta, um fim, uma pausa, não é o fim, nunca é o fim, nunca foi o fim. Outros amores, outras histórias, outros futuros planejados, outras vidas vividas, outros caminhos escolhidos, não vai acontecer de novo, eu sei, não vai, por mim poderia acontecer, por mim também, você faz falta, você também, eu te amo.
    Eu te amo.

"Eu não vou esquecer porque eu te amo."

    Você disse isso na última vez em que nos vimos. Pela primeira vez, você disse. E eu sabia que era verdade, apesar de tudo, apesar da vida, apesar dos outros caminhos, eu sabia que era verdade. Eu sei que é. Ainda é?
    Isso não muda os caminhos, eu sei, você tem um caminho e eu estou encontrando um caminho também. De novo. Eu não procurei, eu não queria, mas está surgindo um caminho. Você disse que existiam outros bons e é verdade. É verdade.
   Não é que eu não goste daquelas madrugadas sussurradas no escuro e dos sorrisos que a gente disfarçava. O coração que palpitava em segredo, tão alto e descontrolado. As mãos que suavam e tremiam mesmo depois de tanto tempo e aquela sensação de que minhas pernas estavam imitando gelatina, bambas, fracas, como se eu tivesse quinze anos de novo.

"Você é a história mais bonita que eu já tive".

    Mas é que a gente é sonho e eu procuro um caminho que possa ser realidade, sem censuras, sem desculpas, sem impedimentos, e acredito que você faz o mesmo. Eu queria que você fosse esse caminho. Sempre quis. Me deixe assumir que isso é o que eu sempre quis. Que sempre foi, durante todos esses anos. E assuma que não era bem o que você queria.
    A gente é sonho. Você sempre foi meu sonho. Meu sonho, meu amor, meu segredo, meu, meu tantas coisas e nunca meu. Nunca meu. E eu sempre fui sua, desde sempre sua, e nunca sua. Nunca sua. Nunca de verdade. Nunca.
    Hoje eu escrevi sobre você e talvez não devesse ter escrito. Mas era o que eu queria. Hoje eu não me importei. Hoje não tomei cuidado. Será que terei problemas?

"A gente tem que tomar cuidado".

    Será que teríamos tido problemas?

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Eu transbordo

01:36 Kamila Siqueira 2 Comments

08/04/2014


Se te pedissem para dizer quem você é em sua essência, você saberia o que responder?
Alice me ensinou que pela manhã acordamos sendo alguém, mas mudamos muitas vezes desde então. Apesar de saber exatamente como é isso, eu saberia dizer quem sou. Sei o que me é intrínseco: eu transbordo.        
Eu sou alguém que transborda. Transbordo meus erros e meus acertos, minhas dádivas e meus pecados. Tudo em mim é exagero e vivo aos extremos. Nada é ruim o suficiente se  não puder se transformar em uma tragédia shakespeariana. Se for bom, que seja um espetáculo da Broadway. Eu transbordo todos os meus erros e sofro minha culpa ao extremo. "Não pegue toda a culpa para você. Aceite só a sua parte." Me sinto responsável por tudo. Mas também transbordo perdão na mesma proporção.
Mesmo que não percebam o erro. Mesmo que ela nunca me peça perdão. Eu o transbordo.  
Minhas lágrimas são maiores que meus olhos, transbordam para fora, escorrem pelo corpo nu em excesso. Minhas alegrias andam transbordando em sorrisos e gargalhadas de doer a barriga. Amo ouvir essa risada.
Minha vontade de estar presente na vida dos que aprecio também é desse tamanho enorme. Minha vontade de agradar, de ajudar, de ser importante para os outros. De ser alguém. Talvez minha carência também transborde de maneira patética.
Mas peço que perdoe esses extremos ruins, e peço perdão oferecendo o que tenho em maior quantidade entre meus exageros: o amor.
Eu transbordo amor. Por todos aqueles que também tem amor e por aqueles que não o possuem. Por quem também me tem amor e por quem não significo. Por quem me quer e por quem me rejeita, por quem quer meu amor inteiro e quem quer só um pedacinho, sem esse auê todo.

Eu transbordo amor.
É isso o que me salva.
É isso o que me destrói.

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Máscara de carnaval

23:56 Kamila Siqueira 1 Comments

01/03/2014


Eu tenho uma febre que sei que vai passar, mas não passa.

Tenho uma angústia no peito que não sei se passará.

Tenho uma culpa nas costas que não sei de onde vem.

E tenho um medo de olhar nos meus próprios olhos diante do espelho. Não me encaro.

Não sou eu. Eu não sou eu. Alguém me tire de mim porque eu não sou quem sou, não fui tudo o que fui para me transformar nisso que sou, não sonho em ser quem sonho depois de ser quem sou hoje. Não pertenço a esta pele. Alguém me tire dessa pele, me tire desse corpo, esse corpo não pertence a mim, não é meu, não sou eu. Não quero que seja eu. Não quero ser eu. Alguém me dê uma máscara que cubra minha alma, que possa encobrir meus erros e minhas vergonhas, meus fracassos e minhas ingenuidades, minhas quedas em público, meu tropeços, meus enganos. Perdoem meus pecados e os esqueçam. Esqueçam quem sou e lembrem-se de quem fui. Eu não sou mais quem fui.
Quero gritar que isso é um engano, que não estão vendo a verdade, mas a verdade é a que está estampada mesmo, é a que a minha maquiagem não consegue cobrir. Minha alma rasga-se inteira tentando sair, tentando fugir, porque meu corpo não é um bom lugar para se estar perante esses olhares acusadores que dizem saber que a culpa é minha. Que não dizem nada e acusam com os olhos. Que me fazem abaixar a cabeça e não olhar diretamente, nunca, em hipótese alguma, nem para os meus próprios olhos no espelho. Eu não tenho coragem de olhá-los. Alguém me tire de mim porque aqui não é um bom lugar para eu estar. Alguém me roube e me sequestre, leve tudo o que tenho de mim e não devolva nada. Roube minha alma e a despedace, por favor.

Eu nunca senti que eu era uma boa pessoa.

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Quando dançávamos

21:29 Kamila Siqueira 2 Comments

11/01/2014

(...) E você dançava tão bem! Quando o professor mandava trocar os casais, eu te observava dançando com as outras e não sentia ciúmes, sentia orgulho. Você ficava tão bonito pra lá e pra cá no salão, contando os três tempos do ritmo da música, fazendo tudo direitinho, tão homem, tão bonito. E eu dançava com os outros cavalheiros - porque era assim que o professor chamava todos os homens - mas eles não conduziam como você, eles não sabiam me levar como você, eles eram inseguros e desajeitados. Você era seguro, firme, me mantinha firme nos seus braços, me segurava na hora certa depois do giro, lembra quando o professor dizia que o cavalheiro tinha que saber quando pegar a dama depois do giro porque ela só deveria parar de girar depois que sentisse a mão direita dele em sua cintura? Agora eu estou girando e girando e girando pelo salão da vida e não sinto suas mãos me resgatando e me puxando para si de novo, não sinto você aqui, não vou conseguir parar de girar até sentir você, mas você não vai voltar. Você não vai me resgatar do giro. Quem vai me resgatar agora? Ninguém.

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