Aquela de setembro
27-09-2022Pensei em escrever um diário.
Pensei nisso tantas vezes. Para depois olhar para trás e me lembrar de tudo o que esqueço, de todas as vezes em que deixei para lá, em que deixei passar para não estragar as coisas, para não incomodar ninguém. Tantas vezes em que deixei (e ainda deixo) me cutucarem até sangrar, só para que os outros não se incomodem.
"Tudo bem, não tem problema".
"Tudo bem, eu lido com isso".
"Tudo bem, não fiquei magoada".
Eu me esqueço de que tenho o direito de me magoar. De que não é a primeira vez. Nem a segunda. Nem a terceira. Me esqueço de que quem me aponta o dedo sujo, mexeu em sujeira primeiro, quem me julga, tem condenações prévias, quem me ataca, tem o teto envidraçado. Mas eu não sei contra-atacar. Eu não sei tirar a mágoa de dentro de mim e transformá-la em defesa, em justiça. Eu estou sozinha e não sei me proteger.
Procuro abrigo em mim mesma, no meu silêncio, porque sei que não adianta tentar falar. Não vão me ouvir. Não tem ninguém para me ajudar, para me confortar, para me cuidar. Os últimos tempos foram difíceis e me deixaram cada vez mais sozinha. Preciso constantemente me lembrar do que realmente importa, de onde realmente está o meu futuro. De onde está o meu objetivo. Preciso constantemente me lembrar de que as escolhas são minhas e ninguém tem o direito de julgá-las.
Eu deveria escrever um diário para não me esquecer.