- E como você se enxerga daqui a cinco anos?

20:59 Kamila Siqueira 0 Comments

07/05/2015

   
Eu? Bom, eu me imagino dançando. De saia rodada, no meio de um salão bem grande. Talvez eu tenha um par que me conduza nos passos mais difíceis ou talvez meus sapatos sejam meus únicos guias. Tudo bem também, eu já aprendi a girar sozinha. Mas o salão é grande demais para eu dançar sozinha, então todas aquelas outras pessoas especiais também estão lá. Algumas dançando, outras sorrindo, talvez segurando taças, brindando algo muito importante que a gente deveria brindar todos os dias. Eu não sei direito o que está acontecendo, o que sei é que a luz do salão é amarelada, num tom poente, exatamente como a luz que entra pelas janelas grandes. Porque eu gosto de amarelo. Talvez minha saia rodada também seja amarela e meus sapatos se prendam com uma tira aos meus pés, que se perdem e flutuam do chão. Cansei de perder tempo fincando os pés no chão.
    Eu sorrio sem saber por que ou para quê, dou risadas, gargalhadas. Meu coração bate forte contra o peito e eu já não tenho medo algum, giro com a certeza de que não vou cair, sei que minhas pernas finas não foram feitas para tropeços e que tenho todo o equilíbrio do mundo em meus joelhos. Nada vai me derrubar, nem mesmo se meus sapatos bonitos forem de salto alto. Eu tenho todo o controle sobre meu próprio corpo. Tenho controle sobre minha própria vida, sobre meu tempo, sobre meus passos. 
    Eu não sei qual música está tocando ao fundo, mas sei que algo toca e que os acordes me tocam. Posso sentir meu sangue correndo, meu corpo quente, minha vida pulsando. Eu não perco o fôlego nunca, não preciso parar e respirar, meus pulmões estão sempre cheios de ar e de vida. Minhas mãos não seguram a barra do vestido nem arrumam o cabelo, que está perfeitamente bagunçado. Eu não sei muito bem como cheguei até ali, mas sei que realizei aquele sonho de sempre e que finalmente estou onde deveria estar. Minha alma pulsa dentro de mim e ri junto comigo, eu finalmente aprendo a gostar do meu sorriso e o distribuo sem medo, minhas mãos não tremem, minha garganta não engole um nó, meus olhos não piscam desesperadamente para evitar o choro. Eu estou livre, completamente livre. E, acima de qualquer coisa, estou absolutamente, integralmente e irrestritamente feliz.

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