Bicho encanado
Adeus, disse ele à flor. Mas a flor não respondeu.
Aquela de setembro
27-09-2022O corpo não desfaz cicatrizes
O Coelho Branco
É muito difícil viver dentro da minha cabeça
Olhar altivo
05/05/2021
Eu amo você.
Acho que é importante dizer isso, antes de qualquer coisa. Meu amor por você não diminuiu. Não é sobre isso.
Mas eu já te admirei mais.
Às vezes penso que os caminhos que tomamos são incompatíveis. Não sei o que nos levou a isso, se foram caminhos que seguimos sem perceber ou se tínhamos alguma consciência. Acho que estávamos distraídos demais com todo aquele amor e as gargalhadas das tardes de sábado. Mas lá no fundo, no fim do dia, quando a noite chegava e me deixava sozinha, a consciência tomava conta de mim. Eu sabia que o futuro seria assim. Eu temia que o futuro fosse assim.
E ele chegou, o futuro, como a montanha russa que mora dentro do meu estômago disse que chegaria. E chegou em forma de palavras, que ficaram ecoando em minha cabeça durante a semana inteira. Todas as noites, quando me deito no silêncio, as palavras que você disse gritam em minha cabeça. E elas machucam. Elas me ferem.
Sei que você não tem a menor ideia desses machucados que estão dentro de mim, que eu não consigo expor. Suas palavras aparentemente não eram ofensivas. Você nunca disse nada para me ferir. Pelo contrário, você sempre me cuidou. Mas as suas palavras me mostraram que aquelas mudanças que eu sempre temi, aquelas que você sempre dizia que não faziam sentido, enfim aconteceram dentro de você. Tudo aquilo que eu tinha medo que você se tornasse, você está se tornando. Eu sinto que está. Eu temo que esteja.
Não vou dizer que foi por influência de quem diz isso há anos, você não é mais uma criança. Você pode filtrar o que ouve. Você pode refletir, pode discordar. Mas foi uma escolha sua. Você escolheu estar do lado oposto de onde estou, de onde gosto de estar. Agora sinto que criamos um cabo de guerra e sei que não sou forte o bastante para te puxar para o lado de cá, não mais. Acho que um dia eu tive uma grande força, mas quanto mais tempo passo nesse mundo, mais sinto a força esvair-se e agora não sei se sou capaz de te convencer de coisa alguma. Mas eu queria ser, sabe? Eu queria ter força o bastante, queria que você reconhecesse minha força. Queria que reconhecesse o poder das minhas palavras, o poder das palavras dos que amam e dos que tentam ser justos. Queria que pudesse abrir seu coração para ouvir o que penso e o que sinto, sem aquele suspiro pesado e o revirar dos olhos. Queria que me ouvisse de verdade, de um jeito que você parou de ouvir há tempos.
E eu não queria escrever sobre isso. Eu queria falar. Eu queria ter coragem o bastante para te dizer tudo o que estou sentindo, sem medo de que você entenda errado. Sem medo de que você tome atitudes que eu não quero tomar. Mas o medo agora é algo que vai me acompanhar para sempre, não é? Eu disse que isso aconteceria. Eu disse que esse caminho me traria medo para sempre.
Mas não se preocupe, o fato de você ter escolhido um lado oposto ao meu não me faz te amar menos. Suas palavras corrosivas não destruíram o meu amor por você.
Elas destruíram o seu amor por mim?
Nem rei, nem valete
É que eu sinto muito
12/09/2020
3:40 da manhã e eu penso que esse deve ser um recorde da insônia.
Insônia:
substantivo feminino
Falta de sono.
Talvez eu não devesse chamar de insônia, afinal. O sono existe, ele está lá. Ele está aqui. Ele está na ardência dos olhos durante todo o dia, na dor de cabeça, na resposta para aquela pergunta que de tempos em tempos ele me faz: e esses olhos vermelhos?
Mas eu deixei de dormir há algum tempo, há alguns meses. Quando voltei a sonhar. Eu deixei de dormir porque os sonhos fervilham em minha cabeça e eu não consigo parar, eu não consigo descansar, eu não consigo deixar de ouvir aquelas vozes que sussurram ilusões. E eu as respondo. Eu respondo que sei que elas estão mentindo, mas que estão mentindo tão docemente que eu quase acredito. Eu quase acredito em todos aqueles sinais do universo. Eu quase acredito que aquele lugar onde eu sempre quis chegar possui um caminho de tijolos amarelos.
Mas por fim, eu não me deixo acreditar, é claro. Eu não posso. Preciso matar os sonhos antes que eles me matem por completo, antes que eles tirem meus pés do chão e me façam cair. Porque a queda dessa vez seria insustentável, entende? Eu não sei se você entende realmente. Como eu poderia me explicar?
É que eu sinto muito.
Eu sinto tanto, a todo momento, sobre todas essas coisas do futuro, sobre todas aquelas do passado e sobre esse presente pausado, inexistente, insuportável. Eu não sei por quanto tempo mais vou conseguir viver nesse presente inabitável. Eu olho o calendário todos os dias e conto os meses nos dedos da mão, conto os meses que faltam e os meses que já se passaram desde que começamos a viver os dias em que ninguém viveu. Eu conto e faço planos para o futuro. Mil planos de tudo o que vou fazer quando eu voltar, mil planos de tudo o que vai acontecer, mil planos que eu com certeza alcançaria, se ao menos eu... Se eu... Se eu não fosse quem sou.
Eu tentei me explicar para vocês. Mas minhas palavras são sempre batidas no liquidificador e dependendo da velocidade da mistura, não é possível mesmo distingui-las no final. Eu não os culpo por não me entenderem. É que são tantas as coisas que sinto que nem sei como colocá-las para fora de forma que elas não se embaralhem. Eu sinto muitas coisas que não digo e digo tantas coisas que não escutam.
Todos os sonhos se transformam em pesadelos ao fim da noite. É assim que tem que ser. É assim que preciso encarar, para que eu nunca me esqueça da realidade da alma humana. Para que eu nunca me esqueça de que não há mão para segurar (e não pelas mãos serem ruins, mas por esse não ser o papel delas). Para que eu nunca me esqueça de que no fim, sempre seremos apenas um e que por isso não devo tentar voar alto.
Ninguém vai me segurar para que eu não caia no chão.
Quem?
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