Uma pequena omissão

20:09 Kamila Siqueira 2 Comments

29/07/2010

- Oi.. Tudo bem?

(Não, não está. É claro que não. Não está tudo bem porque eu estou cansada de tudo isso, completamente exausta. Estou cansada dessa espera, desse medo e dessa insegurança. Estou cansada de ter que fazer o que preciso fazer em vez de fazer o que realmente quero. Não está tudo bem porque sei que muitas coisas ainda estão por vir e não sei o quanto precisarei ser forte e nem sei se conseguirei ser. Não está tudo bem porque hoje eu distribuí um punhado de sorrisos falsos e contei uma mentira, coisas que odeio ter de fazer. Não está tudo bem porque tenho a sensação de que vivo a vida de outra pessoa, enquanto espero o dia em que poderei viver a minha. Não está nada bem porque eu já não consigo dormir nem comer direito e não sei como meu corpo ainda aguenta esse coração tão pesado que carrego aqui dentro. Não, não está tudo bem. Eu já não sei porque ainda acordo todos os dias e enfrento o mundo lá fora, não sei porque continuo seguindo essa rotina sem sentido, não sei porque estou aqui, não sei porque ainda respiro. E não está tudo bem porque gostaria de poder falar tudo isso, mas não posso.)

- Tudo. E você?

2 Comentários:

Interlúdio

19:50 Kamila Siqueira 0 Comments

06/04/2010



Hoje o céu está bonito, talvez mais do que o normal. As estrelas brilham com força. Mas elas estão longe demais.
O fato é que as pessoas constroem castelos de cartas mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde eles irão desabar. Um silêncio incômodo dominará o espaço, roubando todas as palavras que estavam engasgadas na garganta. Não haverá mais nada para ser dito e o sorriso de mentira não convencerá mais ninguém. Eu sei disso porque ando em círculos e já vi essas verdades se concretizarem. Esse interlúdio de felicidade não faz parte da minha vida.
Mas eu estou preparada para os pequenos desastres. As estrelas distantes machucam sim, não posso negar. Mas já estou acostumada. Essa pequena felicidade não me pertence. Tudo isso vai se desvanecer um dia, como uma daquelas estrelas distantes que um dia param de piscar. O céu fica um pouquinho mais vazio, mais escuro, mais triste. Mas ainda é o mesmo céu.
Quando esta pequena felicidade for embora, eu a deixarei ir. Não posso segurá-la por tempo demais porque nada disso pertence a mim. Nenhum desses sorrisos é meu, eles só estão aqui por um pequeno espaço de tempo.
Portanto, se o castelo de cartas tiver de desabar, desabe. O fim das coisas é apenas mais uma rotina da vida.

0 Comentários:

Pedras

19:48 Kamila Siqueira 2 Comments

23/02/2010

É que esse pedaço da estrada em que estou representa o começo de um caminho e este exato lugar em que estou parada pode determinar o restante do caminho inteiro. É por isso que não queria que houvesse uma pedra aqui. Bem aqui. Se fosse no resto do caminho, tudo bem, eu me livraria dela. Passaria por cima, chutaria pra longe, sumiria com ela. Mas aqui... Aqui não dá. Aqui não pode haver pedra. Eu preciso caminhar com tranquilidade agora, sem tropeçar. Se eu cair, não vou conseguir me levantar. Estou dizendo, não vou. Eu não posso cair, não agora.
O tempo está passando. Daqui a pouco vou descobrir com o que estou lidando. Não vai demorar muito e isso me assusta. Torço para que o caminho seja plano, para que eu consiga enxergar o horizonte e para que tudo dê certo. Torço para que eu não consiga parar de sorrir enquanto ando por este caminho.
Torço para que não exista pedra alguma.

2 Comentários:

Mais um fim

19:19 Kamila Siqueira 3 Comments

13/02/2010



Eu poderia dizer um milhão de palavras bonitas só para preencher este silêncio vazio que pede resposta. Mas não direi, não desta vez. É melhor me calar porque talvez, se ninguém falar mais nada, aquele ponto final possa realmente significar um fim. Pela primeira vez, um final de verdade. Um fim e depois nada, só o silêncio da noite e o frio do inverno.
Mas não era isso que eu queria. É claro que não. Quem é que quer presenciar o último suspiro, a última tentativa frustrada? Quem é que quer ver a morte das coisas, a esperança indo embora, os pedaços do que restou sendo jogados fora? Ninguém gosta de dar um fim em tudo, mas é isso que a gente faz quando alguém diz que tem que acabar. A gente coloca um ponto final. Depois, ironicamente, a vida multiplica o ponto e o transforma em reticências. Terminamos com tudo, mas a vida não. Não existe mais nada senão um vazio profundo, mas a vida dá mais tempo. E o que faremos com o tempo interminável que existe depois do fim? Eu não sei.
Não existe mais nada.
E isso nunca acaba.

3 Comentários:

Fatos

18:32 Kamila Siqueira 1 Comments

22/01/2010

Fui até a janela e olhei para o dia lá fora. Era uma tarde de verão e o céu estava bem azul. Mas não era para o céu que eu queria olhar.
Ele estava lá fora, parado a poucos metros de distância, de costas para mim. Eu o observei enquanto ele observava as flores. As mãos nos bolsos, a camiseta branca, o sol forte batendo nas costas. Não disse e nem fez nada, mas tenho quase certeza de que sabia que eu o observava. Eu quis chamar o nome dele, quis começar uma conversa qualquer só para ter seus olhos focados nos meus, só para ouvir aquela voz falando comigo. Mas não fiz nada. De que iria adiantar? Seus olhos não iriam encontrar nos meus o que eu encontro nos dele, sua voz não iria dizer nada daquilo que eu queria ouvir. E não havia mais nada que eu pudesse fazer para mudar os fatos. Eu só podia observá-lo. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim...
Ele afastou algumas folhas secas das flores bonitas. Eu olhei para o céu, tão claro e tão bonito, e perguntei por que as coisas tinham de ser como são.
Até hoje não encontrei a resposta.

1 Comentários:

Pequenas verdades

17:43 Kamila Siqueira 1 Comments

12/01/2010

- E você, também tem a sensação de que está andando em círculos?
Ele suspirou antes de responder.
Desviou os olhos porque era dia e só conseguia falar sobre coisas sérias se estivesse protegido pelo escuro. Os olhos encontraram o céu, um azul infinito.
- Acho que sim. Mas não me importo. Quando não há caminhos para se seguir, pouco importa a direção em que se caminha.
Deu um sorriso triste, sem desviar os olhos do céu. O silêncio permaneceu por um tempo, mas ela ainda precisava falar.
- Eu não quero andar em círculos.
- Você não pode evitar.
- Claro que posso.
- Não pode, andar em círculos é o caminho natural do ser humano. Pelo menos é o que me parece. As pessoas sempre acabam repetindo o passado. Os mesmos erros e acertos, as mesmas alegrias e decepções. Alguns detalhes mudam, mas a história é sempre a mesma. - A claridade do sol começou a incomodar seus olhos e ele os fechou. Percebendo que assim era ainda mais fácil falar, continuou - Mas as pessoas gostam de fingir que mudaram. Gostam de se enganar e de tentar enganar os outros. É até compreensível.
- Por quê?
Antes de responder, os olhos dele finalmente encararam os dela.
- Porque a vida é feita de pequenas ilusões.
Silêncio.
Desta vez foi o olhar dela que se desviou para o céu. Preferiu não dizer mais nada e fechou os olhos para o sol, como se assim pudesse fechar os olhos para a verdade.

1 Comentários:

Ano... Novo?

17:53 Kamila Siqueira 1 Comments

04/01/2010

Os novos dias chegaram.
Limpei algumas gavetas, joguei alguns papéis fora, arrumei espaço para novas coisas. Comecei a planejar o futuro próximo e a sonhar um pouquinho. Estou evitando criar metas improváveis e estou tentando afastar o medo. Tudo o que não for necessário vai embora. As coisas boas ficam. Algumas coisas posso adaptar, reaproveitar, mudar. Essas também ficam. Tudo o que for inútil vai para o lixo.
Por enquanto, estou indo bem.
Mas ainda tenho uma dúvida: O que faço com o amor que ainda existe e que não deveria existir? Coloco em uma caixinha e jogo fora também?

1 Comentários: