Malácia
06/01/2016
As ondas do mar me enchem os ouvidos de um som reconfortante e eu encho os pulmões de um suspiro profundo. Mais cedo, sentei-me diante do oceano e chorei. Não havia nada me causando dor, mas é que sempre que as águas salgadas beijam meus pés e eu ouço o sussurro das ondas, sinto que o mar pede para encontrar o mar que existe dentro de mim e eu deixo que ele escorra para fora dos meus olhos. Minha água salgada encontra a água salgada da Terra e eu sinto que está tudo bem, que faço parte deste mundo, que somos feitos da mesma matéria.
Agora embalo a mim mesma deitada em uma rede, encarando o telhado de telhas alaranjadas. Alguém toca Wish You Were Here no violão e isso encosta no meu interior e remexe meus sentimentos. Penso naquele amor que deixei há alguns dias, sem um beijo de despedida e sem deixá-lo realmente. Penso no quanto estou perdidamente... perdidamente... perdida. O pensamento não me causa angústia, estou perdida de um jeito tão familiar que sinto-me segura, de alguma forma. Ouço o murmuro das ondas do mar e do vento, sinto o ar fresco encher meus pulmões. Tenho consciência de que nem tudo será calmaria e de que as ondas do mar também destroem e afogam. Mas respiro e o que sinto é uma calma plena. Como se eu flutuasse. Sinto que, de alguma forma, as coisas vão se encaixar, como sempre se encaixam e como nunca se encaixaram antes. Sinto o perigo iminente que o futuro pode me oferecer, mas ainda assim, por algum motivo, sinto que posso confiar na água salgada que beijou meus pés e no amor que não beijou meus lábios de despedida.
A música dedilhada chega ao refrão e eu penso nas pessoas. Nas que estão ali, nas que estão longe, na família e nos amigos. Sorrio. Pergunto-me se elas conseguem sentir todo esse amor que sinto dentro do peito, um amor que me faz querer agradecer por tudo o que acontece, apesar de todo o resto. Sou completamente preenchida de um sentimento pacífico, que envolve e abraça meu coração, que me faz querer dizer obrigada o tempo inteiro. Por tudo o que tenho e por tudo o que sou. Por todos os abraços, por todas as risadas e por todo amor. Por todas as pessoas que passam pela minha vida, até aquelas com quem não troco muitas palavras. Por todas as gentilezas e as lições. Por todos os segundos que correram até que eu chegasse neste momento em que estou. É desse sentimento estranho que tiro a certeza de que tudo irá se encaixar. Desse sentimento.
Gratidão.